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Anitta no Altas Horas: você gongou a cantora nas redes sociais? Não deveria…

A polêmica envolvendo o debate entre Pitty e Anitta no programa foi importante, mas também foi equivocada em muitos momentos

Por Da Redação Atualizado em 24 ago 2016, 17h09 - Publicado em 2 abr 2015, 21h30

Altos debates no Altas Horas

O programa Altas Horas que foi ao ar no sábado do dia 6 de dezembro discutiu um assunto que está em alta: a liberdade sexual feminina. Além das atrizes Marjorie Estiano, Danielle Winits e Fernanda Paes Lemes, as cantoras Anitta e Pitty foram convidadas para opinar sobre o tema.

Quando questionada pelo apresentador Serginho Groisman sobre o comportamento das mulheres em baladas, Anitta falou que vê muitas meninas pegando vários caras em seus shows e que não acha isso certo. “A grande questão é que as mulheres lutaram tanto para ter os mesmos direitos dos homens(…) Conseguiram um salário igual, conseguiram votar, conseguiram emprego(…) Chegou uma hora que a mulher quis tomar conta da situação. Elas acham que podem sair e pegar 50 numa noite(…) Não acho bonito”, disse, gerando polêmica.

No mesmo momento, Pitty questionou a fala da colega, dizendo que as mulheres ainda não tinham conquistado os mesmos direitos dos homens. “Mas estamos quase lá”, respondeu Anitta. “Quase não é lá”, rebateu Pitty, aproveitando ainda para deixar bem claro que se é o homem que sai e pega 50 em uma noite, as coisas não são vistas com tanto espanto. Na mesma hora, a plateia, formada majoritariamente por homens (curisoso, não?), botou fogo na discussão com gritinhos histéricos. (Confira o vídeo completo do debate aqui !)

A repercussão na internet

O programa terminou, mas a polêmica continuou nas redes sociais. Surgiram memes zoando a fala da Anitta, vídeos comparando o que ela disse com o que ela faz em suas apresentações e pessoas xingando a cantora abertamente em seus respectivos perfis.

Veja alguns exemplos:

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O discurso da Anitta vai mais além

Por conta de tamanha repercussão, a CAPRICHO conversou com algumas feministas que analisaram o ocorrido, tanto no programa, quando na internet. A estudante Letícia Dias, que faz parte da Lisandra, frente feminista da faculdade em que estuda, acredita que o discurso da cantora é, infelizmente, bastante comum. “Ela entrou em uma questão complicada, que é a das meninas se darem ao respeito, e acabou reproduzindo um discurso machista, que toda garota já ouviu uma vez na vida”, explica.

A roteirista, nerd e feminista Rebeca Puig, do blog Colant Sem Decote, partilha da mesma opinião, mas contextualiza: “mesmo que os pais não tenham a intenção, e eu acredito que a maioria não tenha, eles acabam afundando as filhas em um rio de conceitos machistas que, muitas vezes, as levam a desconhecer o próprio corpo e a própria capacidade. Quando uma adolescente abre a boca e diz que ‘mulher rodada não presta’, ela está disseminando um discurso que vem sendo sussurrado no ouvido dela desde pequena”, opina.

Tanto Anitta quanto Pitty usaram a internet para esclarecer os rumores da “briga”. “Sinto decepcionar os urubus, mas não houve briga alguma. Discordamos, debatemos, conversamos. Não estou aqui para brigar com mulher. Estou aqui para brigar com o sistema que faz com que algumas reproduzam discurso machista sem saber. E, se não ficou claro, ninguém ‘sambou’, ‘lacrou’, ‘pisou’. A ideia é outra, bem outra”, postou Pitty no Twitter. Anitta também usou a rede social para esclarecer que é amiga e fã da roqueira, e que ela seria hipócrita se defendesse as mulheres em suas canções, mas fosse machista na vida real. “Me expressei mal”, disse.

Para a estudante Letícia, o posicionamento de Anitta dificultou ainda mais as coisas para ela: “ela canta funk e rebola em cima do palco. Com certeza, escuta que precisa ‘se dar ao respeito’ com mais frequência do que você ou eu, por exemplo”. A feminista Rebeca completa: “o discurso machista começa a ser jogado na nossa cabeça desde muito cedo. Meninas ganham brinquedos cor de rosa, panelas de plástico, bonecas e são amedrontadas pela má fama de serem ‘meninas fáceis'”.

Por trás dos comentários de ódio online

“Vontade de matar a Anitta” ou “Anitta, não. Antta mesmo” foram alguns dos comentários online publicados pós-polêmica no Altas Horas. Polly, criadora de conteúdo no Lugar de Mulher, um dos maiores site feminista do país, publicou uma matéria questionando justamente a atitude das garotas na internet, que gongaram, xingaram e, muitas vezes, humilharam o discurso da cantora (e a própria cantora). “Mulher reproduzindo machismo não precisa ser agredida ou condenada. Precisa de um abraço, um chazinho e uma boa conversa”.

Rebeca Puig acredita que a discussão entre as cantoras foi de muito valor, diferente da repercussão negativa na internet. “É legal ver que, cada vez mais, as pessoas estão se colocando contra o machismo, mas não concordo com a atitude de expor a Anitta de tal forma. Vai contra o conceito feminista de sororidade, que defende que todas as meninas são irmãs e devem se respeitar”. “Essa atitude não é nada feminista”, finaliza Letícia Dias.

Uma por todas, todas por uma

Além da igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, o feminismo também prega o respeito entre todas as pessoas do sexo feminino, mesmo que parte desse grupo não partilhe da opinião feminista. “Não fique brava com a Anitta ou a vizinha ou a amiga da sua prima(…) elas sofrem com o machismo tanto quanto a gente, só estão num estágio diferente de percepção”, escreveu Polly na matéria publicada no site Lugar de Mulher. (Confira a matéria completa aqui !)

É ok não ir com a cara da Anitta ou não curtir as músicas da cantora, mas não é ok gongar a artista por seu discurso. Isso não te faz mais feminista; só te faz mais hater . Essa atitude desencoraja toda a discussão sobre feminismo, que é importantíssima para a sua colega de sala, sua amiga de infância, para a sua mãe, para você e para a CAPRICHO. Debate, troca de informações e liberdade de expressão são coisas completamente diferentes de briga, rivalidade, hostilidade. Garotas não deveriam gongar garotas.

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