A polêmica do Secret: cyberbullying invade também os aplicativos

Dividir segredos ou compartilhar o ódio? Estimulado por aplicativos como o Secret, o bullying virtual continua afetando milhares de adolescentes.

Por Isabella Otto Atualizado em 4 nov 2024, 17h50 - Publicado em 25 ago 2014, 14h30

Uma conhecida me chamou por inbox e me mandou uma foto, supostamente minha, que estava circulando pelo Secret. Na imagem, só dava para ver uma parte do rosto de uma menina, que não era eu, eu os peitos dela. A legenda era bem maldosa e feita diretamente para mim. Quando vi, gelei. A menina realmente parecia comigo, o que era o pior! Chorei muito. Todo mundo aqui em casa entrou em desespero. A solução que achei foi postar o print da foto no Facebook e contar o que havia acontecido comigo. Até pensei em procurar a polícia, mas me disseram que não adiantaria nada. Não tenho a menor noção de quem fez isso ou por que alguém faria isso.

Aos 18 anos, Bia Cuimbra passou por isso. Essa foi a história dela, mas, sem dúvida, poderia ser a história de outras adolescentes que descobriram ser vítimas de cyberbullying no aplicativo Secret . “A ideia, que, aparentemente, tinha como intenção promover um espaço em que as pessoas desabafassem, tem se tornado uma complicada e perigosa ferramenta de cyberbullying da modernidade”, afirma a psicóloga Elaine Cristina Aguiar Fernandes .

A CAPRICHO ainda conversou com outras garotas que tiveram, de alguma forma, a intimidade exposta no app . Nem todas se sentiram tão à vontade quanto a Bia para revelar a sua identidade, mas a trama é sempre muito parecida. “Algumas pessoas do meu colégio foram suspensas por causa disso”, revelou uma das entrevistadas. A verdade é que o polêmico Secret pode até sair do ar, como foi notificado recentemente, mas o cyberbullying vai continuar existindo. Infelizmente.

O MOTIVO

Essa é para quem procura uma explicação para tentar compreender essas pessoas que ofendem gratuitamente outras nas redes sociais. Segundo estudiosos, a parte do cérebro responsável por controlar as tomadas de decisões não está completamente formada até os 25 anos de idade, o que contribui para que muitos adolescentes tomem atitudes impensadas.

VIDA REAL

Entretanto, nenhuma explicação científica consegue diminuir a dor, as dúvidas e a vergonha de uma pessoa que está sendo vítima de bullying. ” É frequente que os jovens não relatem serem vítimas por medo “, explica a Dra. Elaine, que ainda dá três dicas para quem está passando por uma situação como essa:

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a primeira ação que o jovem deve tomar é “printar” a tela com o conteúdo ofensivo;

depois, é aconselhável que ele procure denunciar a publicação;

para finalizar, o jovem deve “printar” novamente a tela quando terminar o procedimento da denúncia, para comprovar que vivenciou realmente aquilo.

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REPENSE

A psicóloga Elaine Fernandes ainda salienta a importância de não entrar na onda dos agressores. ” É importante que a vítima não responda o conteúdo ofensivo, pois poderá agravar ainda mais a situação, ampliando a rede de ofensas e podendo até passar de vítima a agressor conforme julgamento da Justiça”.

Aos 14 anos, a norte-americana Trisha Prabh criou um software que alerta os adolescentes sobre o conteúdo agressivo que eles possivelmente podem estar pensando em postar na internet. É como se, antes da pessoa apertar o botão “publicar”, alguém viesse aconselhá-lo a pensar duas vezes antes de postar a mensagem. Não é à toa que o programa se chama Rethink (Repense).

A mensagem que aparece na tela do futuro agressor é a seguinte: “Essa mensagem pode ser a para os outros. Você gostaria de parar, revisar e repensar antes de postar?”. De acordo com as pesquisas realizadas, 93% dos entrevistados deixaram de postar o conteúdo e, assim, de praticar o cyberbullying. O projeto é um dos 15 finalistas da Feira de Ciências do Google .

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SECRET

Isolamento, depressão e até mesmo o suicídio. Essas podem ser algumas das consequências tomadas por alguém que está tendo a intimidade exposta nas redes ou sofrendo “zoações” de colegas. E o problema se agrava ainda mais quando as agressões vem de um anônimo. O que, quase sempre, é o que acontece. ” A atualidade tem transmitido a sensação de que a superexposição é algo positivo e divertido, quando, na verdade, muitas pessoas acabam sendo prejudicadas por ela. Os jovens, principalmente, não têm avaliado as implicações morais e éticas da exposição exagerada e da difamação de outros sujeitos “, alerta ElaineFernandes.

Vale lembrar que as pessoas também podem comentar as publicações no aplicativo Secret. Não ser o responsável pela postagem em si nem sempre diminui a culpa no cartório. “Um comentário desrespeitoso é, sim, uma forma de bullying também. Muitas pessoas dizem que o fato de não terem efetivamente postado algo agressivo, apesar de terem compartilhado ou comentado, fazem com que elas não sejam responsáveis. Mas são. Inclusive no sentido judicial”.

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