Jovem viraliza importando pautas do Twitter em vídeos criativos no TikTok

Para Flávia Soares, "a webdiva de micronichos", a graça de criar conteúdo na internet é ser autêntico

Por Mavi Faria 3 Maio 2025, 13h00
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om o quadro “importando pautas do Twitter até assinarem a minha carteira de trabalho”, Flávia Soares, também conhecida como Flávia Verso ou webdiva de micronichos, a criadora de conteúdo conseguiu unir seu atual desemprego, um conceito popular sobre a rede social, discussões profundas que raramente são válidas e necessárias, com humor.

No TikTok, a jovem estudante de jornalismo faz uma curadoria das discussões em alta no X (ex-Twitter), e a traz para o espectador nos moldes do jornalismo tradicional de bancada: com uma manchete, com resumo explicativo da situação e capturas de tela para mostrar os comentários que se seguiram à discussão inicial.

Diferente de um noticiário tradicional, Soares ironiza com o bizarro das polêmicas da rede e dá o próprio tom de comédia, muito sustentado pela seriedade ao apresentar as ‘notícias’ e os recursos de áudio acrescentados nas edições dos vídeos.

A ironia, inclusive, está presente no próprio título do vídeo. Em entrevista à CAPRICHO, ela explicou que, embora a procura por emprego fosse real, a ideia sempre foi brincar com a concepção social de que o X é uma plataforma “de desempregados, onde as pessoas passam muito tempo lá discutindo sobre coisas sem sentido e com uma profundidade desnecessária, e o pessoal fica ‘meu, você precisa de uma carteira de trabalho.'”

@flaviaverso

dia 2 importando pautas do twitter ate alguem assinar minha carteira de trabalho

♬ som original – webdiva de micronicho

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Na antiga rede social do passarinho azul, as publicações em texto frequentemente são transformadas em um espaço de opiniões polêmicas e controversas e, com base nisso, o intuito de Soares foi “mostrar como lá [o X] é um ambiente problemático, como tudo pode virar discussão e escalam muito. Lá, as pessoas vão muito longe para defender a opinião delas e às vezes é muito de graça, acabam ofendendo outra pessoa. Eu mesma já levei muito chapisco na internet por ter uma opinião que a galera discordava”.

Embora o TikTok e o Instagram, onde ela publica os vídeos, não sejam redes sociais de tantas discussões em texto, ela revela a CH que já houve situações onde as discussões apresentadas por ela migram para os comentários com intensidade – “mas com menos toxidade”, afirma.

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dia 4 importando pautas do twitter ate alguem assinar minha carteira de trabalho

♬ som original – webdiva de micronicho

“A graça é justamente a autenticidade”

Na internet, falar de criação de conteúdo autoral é um tópico complexo. Isso porque com tantas tendências, criadores de conteúdo e publicações nas redes, encontrar o limite entre a criação original, a inspiração e a réplica pode ser difícil: Quem copiou quem? Quem se inspirou na primeira pessoa que fez aquele tipo de conteúdo e, ainda, quem foi a primeira pessoa, levando em conta a criação global de conteúdo? 

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Nas últimas semanas, o assunto voltou à tona com a acusação de que Viih Tube tinha plagiado o conteúdo da influenciadora Graciely Junqueira. Após a acusação pública, Viih pediu desculpas por não ter dado o crédito devido a Junqueira e afirmou que o vídeo da jovem foi um dos que ela se inspirou para a publicidade, mas não o único. 

Cinco dias após a início do quadro “Importando pautas do Twitter até assinarem minha carteira de trabalho”, Flávia Soares se viu na mesma posição ao encontrar vídeos no TikTok com o mesmo formato, linguagem e edição que os seus, e seguindo a mesma premissa: “importando pautas do Twitter até…”, nesses casos, com um objetivo final diferente. 

“Minha linguagem ficou tão específica que todo mundo a associa a mim, e acho que fica problemático para a pessoa que vai ver e pensar ‘poxa, tá imitando ela, tá na cara’”, explica. Ela ressalta, entretanto, que se inspirar no conteúdo do outro é inevitável e até natural, já que “bebemos da mesma fonte, a gente não inventou a rota”.

Eu queria mostrar como lá [o X] é um ambiente problemático, como tudo pode virar discussão e escalam muito. Lá, as pessoas vão muito longe para defender a opinião delas e às vezes é muito de graça, acabam ofendendo outra pessoa. Eu mesma já levei muito chapisco na internet por ter uma opinião que a galera discordava

Flávia Soares, criadora de conteúdo
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O segredo, para ela, é se perguntar: “Como que a gente pode adaptar a ideia melhor para nossa linguagem?”, o que vai permitir que o espectador relacione o conteúdo com os que ela já produz. 

Adaptar ideias para a própria linguagem dá trabalho e estimula a criatividade, mas, nesse caso, Soares é firme e decidida ao afirmar que “a graça é justamente essa autenticidade”. Na comédia, inclusive, não só sua personalidade é característica mandatória, como ela também sabe colocar o próprio limite do que fazer graça ou não. 

“As pessoas me pedem para falar de assuntos que envolvam a aparência de alguém, mas eu já falei que não vou falar sobre isso nos meus vídeos”, afirma de forma categórica. 

Ela explica que, mesmo quando o intuito do seguidor é de expor como a discussão é depreciativa, falar sobre em vídeo vai gerar ainda mais atenção sobre a característica física da pessoa comentada – o que, no final, aumenta a humilhação.

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@flaviaverso

importando pautas do twitter até alguém assinar minha carteira de trabalho

♬ som original – webdiva de micronicho

Viver fora e com a internet

Embora a brincadeira com a carteira de trabalho tenha sido um dos pontapés para o quadro existir, se você acompanha o conteúdo de Soares, deve ter percebido que a contagem até a assinatura da carteira parou no dia sete e, até então, o título dos vídeos se manteve somente “importando pautas do Twitter”.

O motivo mais óbvio é de que ela foi empregada – o que é verdade! -, mas a interrupção da contagem envolve a noção de que os usuários ficariam cansados da contagem e a necessidade de se reinventar para se manter relevante dentro da plataforma. Nesse cenário, o maior desafio é incluir tempo de descanso e de cuidado com a saúde mental na agenda de preocupações.

“Eu sou muito viciada na internet, se não estou mexendo em vídeo, vendo coisas, é porque estou conversando com alguém e isso é algo que falta muito na vida, falar assim ‘calma, vamos descansar um pouco’, sabe?”, relata. 

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Mesmo assim, ela parece lutar por um equilíbrio e, nos fins de semana, a vida off se torna lei. O difícil, segundo ela, é suprir a necessidade interna e externa de se reinventar. 

“Eu não quero ser resumida somente a ‘menina que importa pautas’ nem que as pessoas pensem ‘se o Twitter acabar, ela não tem mais conteúdo’. Eu me cobro muito e fico pensando quando já vou mostrar um novo tipo de conteúdo”, desabafa.

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