Jovem viraliza importando pautas do Twitter em vídeos criativos no TikTok
Para Flávia Soares, "a webdiva de micronichos", a graça de criar conteúdo na internet é ser autêntico

om o quadro “importando pautas do Twitter até assinarem a minha carteira de trabalho”, Flávia Soares, também conhecida como Flávia Verso ou webdiva de micronichos, a criadora de conteúdo conseguiu unir seu atual desemprego, um conceito popular sobre a rede social, discussões profundas que raramente são válidas e necessárias, com humor.
No TikTok, a jovem estudante de jornalismo faz uma curadoria das discussões em alta no X (ex-Twitter), e a traz para o espectador nos moldes do jornalismo tradicional de bancada: com uma manchete, com resumo explicativo da situação e capturas de tela para mostrar os comentários que se seguiram à discussão inicial.
Diferente de um noticiário tradicional, Soares ironiza com o bizarro das polêmicas da rede e dá o próprio tom de comédia, muito sustentado pela seriedade ao apresentar as ‘notícias’ e os recursos de áudio acrescentados nas edições dos vídeos.
A ironia, inclusive, está presente no próprio título do vídeo. Em entrevista à CAPRICHO, ela explicou que, embora a procura por emprego fosse real, a ideia sempre foi brincar com a concepção social de que o X é uma plataforma “de desempregados, onde as pessoas passam muito tempo lá discutindo sobre coisas sem sentido e com uma profundidade desnecessária, e o pessoal fica ‘meu, você precisa de uma carteira de trabalho.'”
@flaviaverso dia 2 importando pautas do twitter ate alguem assinar minha carteira de trabalho
Na antiga rede social do passarinho azul, as publicações em texto frequentemente são transformadas em um espaço de opiniões polêmicas e controversas e, com base nisso, o intuito de Soares foi “mostrar como lá [o X] é um ambiente problemático, como tudo pode virar discussão e escalam muito. Lá, as pessoas vão muito longe para defender a opinião delas e às vezes é muito de graça, acabam ofendendo outra pessoa. Eu mesma já levei muito chapisco na internet por ter uma opinião que a galera discordava”.
Embora o TikTok e o Instagram, onde ela publica os vídeos, não sejam redes sociais de tantas discussões em texto, ela revela a CH que já houve situações onde as discussões apresentadas por ela migram para os comentários com intensidade – “mas com menos toxidade”, afirma.
@flaviaverso dia 4 importando pautas do twitter ate alguem assinar minha carteira de trabalho
“A graça é justamente a autenticidade”
Na internet, falar de criação de conteúdo autoral é um tópico complexo. Isso porque com tantas tendências, criadores de conteúdo e publicações nas redes, encontrar o limite entre a criação original, a inspiração e a réplica pode ser difícil: Quem copiou quem? Quem se inspirou na primeira pessoa que fez aquele tipo de conteúdo e, ainda, quem foi a primeira pessoa, levando em conta a criação global de conteúdo?
Nas últimas semanas, o assunto voltou à tona com a acusação de que Viih Tube tinha plagiado o conteúdo da influenciadora Graciely Junqueira. Após a acusação pública, Viih pediu desculpas por não ter dado o crédito devido a Junqueira e afirmou que o vídeo da jovem foi um dos que ela se inspirou para a publicidade, mas não o único.
Cinco dias após a início do quadro “Importando pautas do Twitter até assinarem minha carteira de trabalho”, Flávia Soares se viu na mesma posição ao encontrar vídeos no TikTok com o mesmo formato, linguagem e edição que os seus, e seguindo a mesma premissa: “importando pautas do Twitter até…”, nesses casos, com um objetivo final diferente.
“Minha linguagem ficou tão específica que todo mundo a associa a mim, e acho que fica problemático para a pessoa que vai ver e pensar ‘poxa, tá imitando ela, tá na cara’”, explica. Ela ressalta, entretanto, que se inspirar no conteúdo do outro é inevitável e até natural, já que “bebemos da mesma fonte, a gente não inventou a rota”.
Eu queria mostrar como lá [o X] é um ambiente problemático, como tudo pode virar discussão e escalam muito. Lá, as pessoas vão muito longe para defender a opinião delas e às vezes é muito de graça, acabam ofendendo outra pessoa. Eu mesma já levei muito chapisco na internet por ter uma opinião que a galera discordava
Flávia Soares, criadora de conteúdo
O segredo, para ela, é se perguntar: “Como que a gente pode adaptar a ideia melhor para nossa linguagem?”, o que vai permitir que o espectador relacione o conteúdo com os que ela já produz.
Adaptar ideias para a própria linguagem dá trabalho e estimula a criatividade, mas, nesse caso, Soares é firme e decidida ao afirmar que “a graça é justamente essa autenticidade”. Na comédia, inclusive, não só sua personalidade é característica mandatória, como ela também sabe colocar o próprio limite do que fazer graça ou não.
“As pessoas me pedem para falar de assuntos que envolvam a aparência de alguém, mas eu já falei que não vou falar sobre isso nos meus vídeos”, afirma de forma categórica.
Ela explica que, mesmo quando o intuito do seguidor é de expor como a discussão é depreciativa, falar sobre em vídeo vai gerar ainda mais atenção sobre a característica física da pessoa comentada – o que, no final, aumenta a humilhação.
@flaviaverso importando pautas do twitter até alguém assinar minha carteira de trabalho
Viver fora e com a internet
Embora a brincadeira com a carteira de trabalho tenha sido um dos pontapés para o quadro existir, se você acompanha o conteúdo de Soares, deve ter percebido que a contagem até a assinatura da carteira parou no dia sete e, até então, o título dos vídeos se manteve somente “importando pautas do Twitter”.
O motivo mais óbvio é de que ela foi empregada – o que é verdade! -, mas a interrupção da contagem envolve a noção de que os usuários ficariam cansados da contagem e a necessidade de se reinventar para se manter relevante dentro da plataforma. Nesse cenário, o maior desafio é incluir tempo de descanso e de cuidado com a saúde mental na agenda de preocupações.
“Eu sou muito viciada na internet, se não estou mexendo em vídeo, vendo coisas, é porque estou conversando com alguém e isso é algo que falta muito na vida, falar assim ‘calma, vamos descansar um pouco’, sabe?”, relata.
Mesmo assim, ela parece lutar por um equilíbrio e, nos fins de semana, a vida off se torna lei. O difícil, segundo ela, é suprir a necessidade interna e externa de se reinventar.
“Eu não quero ser resumida somente a ‘menina que importa pautas’ nem que as pessoas pensem ‘se o Twitter acabar, ela não tem mais conteúdo’. Eu me cobro muito e fico pensando quando já vou mostrar um novo tipo de conteúdo”, desabafa.