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4 sereias explicam o sereísmo, estilo de vida que não é modinha

O canto da sereia é místico, provocador, irresistível. Então, cuidado! Você também pode se apaixonar.

Por Isabella Otto Atualizado em 1 nov 2024, 13h41 - Publicado em 14 mar 2016, 18h00

“Estava mergulhando no Aquário de São Paulo, e tinha sido um dia terrível para mim, pois estava com uma otite brava (sempre brinco que otite é doença de sereias, porque, praticamente, todos os animais marinhos têm). Eu já estava cansada, só querendo ir para a casa, quando a minha gerente começou a puxar conversa e me contou a história mais linda que eu já ouvi. De manhã, ela viu que uma senhorinha estava esperando na fila dos visitantes. Como era bem idosa, minha gerente falou que ela podia entrar antes com a família. À tarde, durante a minha apresentação no tanque do peixe-boi, a gerente estava passando quando reparou que a senhora estava em pé, com as mãs coladas no vidro, chorando muito. Ela correu até ela, já pensando que ela estava passando mal. A senhorinha virou para ela e começou a repetir, entre lágrimas: ‘eu sabia que a veria novamente. Eu sabia! Agora posso morrer em paz’ . Foi então que a moça que estava acompanhando a idosa explicou tudo. Ela havia nascido em uma cidade litorânea e quando tinha uns sete anos, disse para todo mundo que tinha visto uma sereia acenar para ela. O tempo passou e ela continuou contando essa história para quem quisesse ouvir. Quando levaram a senhora até o Aquário, ela não sabia da minha apresentação. Então, quando ela me viu, acenando e mandando beijos, emocionou-se. Ela dizia que eu era a sereia que ela tinha visto quando criança! Isso é o mais fantástico da minha profissão: poder levar magia às pessoas. A vida já é tão cheia de coisas ruins…”

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Depois disso, Mirella Ferraz até se esqueceu da otite. Aos 32 anos, a primeira sereia brasileira profissional conta que sempre se sentiu parte do mar, desde pequenininha. Aos cinco anos, ela pegava as meias-calças da mãe, colava algumas lantejoulas, colocava as duas pernas no mesmo buraco e ia mergulhar na piscina. Aos nove, ela ganhou a sua primeira fantasia de sereia. Aos 21, ela fez a sua primeira cauda profissional, com neoprene e monofin. “O neoprene é um tecido próprio para mergulho e a monofin é a nadadeira, que vai no final da cauda, imprescindível para a natação”, explica.

A sereia Mirella Ferraz, entre um mergulho e outro, também escrevre livros e é roteirista! Atualmente, ela se prepara para o lançamento do curta “O Canto da Lagoa”, produzido por ela, baseado em um dos seus contos.

Hoje, fala-se muito sobre sereísmo, mas quando Mi aderiu ao estilo de vida, não existia nada. “O que venho notando é que a mídia e algumas meninas estão entendendo tudo errado. Estão colocando o sereísmo como ele fosse uma moda passageira, mas não é. O sereísmo é um estilo de vida, um estado de espírito. Ser sereia não é um hobby, é uma atitude “, esclarece. Mirella vive de ser sereia profissional, mas é formada em gestão ambiental, com especialização em animais marinhos. Aliás, a sereia já mergulhou com golfinho, tubarão, tartaruga, peixe-boi, baleia… “Eu já amava trabalhar com pesquisa e conservação de cetáceos. Ser sereia só preenche a minha alma!”.

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A sereia Camila Gomes em alguns dos ensaios fotográficos que já participou. Ela conta sobre seu estilo de vida e paixão no blog Sereísmos, ao lado da amiga-sereia Bruna Tavares. (Fotos: por Camila Andrade, ao fundo, e por Kaleo Gradilone, à direita)

Não é uma obrigação, mas para ser uma sereia completa e mergulhar em tanques de aquários e até no mar, é preciso praticar a apneia. Afinal, você nunca viu uma sereia com máscara de mergulho, né? A Mirella consegue ficar de três a quatro minutos sem respirar embaixo d’água . O processo de treinamento é longo e contínuo, pois a capacidade pulmonar do ser humano tanto expande quanto encolhe. “O segredo é ter calma, se desligar do mundo. Por isso, prefiro mergulhar no mar, onde fico muito entretida”. Mas não são todas as meninas que adotam o sereísmo com estilo de vida que treinam a apneia. É o caso da Bruna Tavares e da Camila Gomes , do blog Sereísmo . A Bru, que é jornalista e youtuber, foi a grande criadora dessa denominação que está dando o que falar! Ela explica que cada pessoa tem um grau de sereísmo na vida. “Ser sereia é você pensar o quão fantástico é o planeta em que a gente vive. Enquanto estamos aqui, tem milhares de cachalotes gigantes nadando livremente. Você tem noção disso?! “, encanta-se.

A Camila, também do blog, acredita que não importa nem quando nem como a sereia surgiu em você; se o amor foi verdadeiro, ele permanece. “Eu sou sereia quando compartilho informações sobre o tema, quando divido esse meu amor com o mundo, quando me interesso pelo assunto, leio livros, decoro a minha casa com conchas”, explica a jornalista, que só não gosta de ver pessoas se aproveitando do “boom sereístico” para ganhar dinheiro e aparecer. É preciso se aprofundar no mar no assunto. “A Iara, do folclore brasileiro, é um belo exemplo de sereia. A Madison, do filme Splash, de 1984, também. Assim como a Ariel, do clássico da Disney, é claro”.

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Alice Oliveira é inciante quando o assunto é sereísmo. Ela produziu a sua cauda recentemente, mas afirma que o lance não é só uma “modinha de Verão”.

Aliás, a Alice Oliveira , de 18 anos, se inspira muito nessas duas personagens de filmes e na Mirella Ferraz, é claro. ” Uma dificuldade é saber lidar com os julgamentos das pessoas. Fora do Brasil, temos até encontros de sereias . Mas aqui as pessoas estão conhecendo o sereísmo agora. Muita gente pode achar estranho, mas cabe a você ignorar. O que importa é você se sentir bem”, afirma.

Mirella Ferraz conta que a maré é totalmente favorável para qualquer menina que sinta-se sereia. Não há regras, mas é preciso ter algumas paixões . Mi explica: “é preciso que a garota sinta essa ligação forte com a água e com o meio ambiente. Ela precisa respeitar esse lugar, protegê-lo, ser ativista. Também é necessário se interessar pelo assunto, estudar. O que mais designa o mar é a sua profundidade. Portanto, para uma pessoa ser sereia, ela tem que sentir esse amor profundo – e não ter medo de mergulhar de cabeça”.

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É preciso comrpeender, porém, e deixar bastante claro que o sereísmo, em si, não é uma tendência de moda ou de beleza, nem algo passageiro – afinal, a primeira sereia do Brasil está aí para provar justamente o contrário -; sereísmo é um estilo de vida que qualquer pessoa que seja apaixonada pelo mar e por seus mistérios, e que defenda o meio ambiente, pode seguir. Com cauda ou sem cauda. Com cabelos coloridos ou não. ” Tem que ter muita identificação com o tema, seja de forma lúdica ou visual. Vamos continuar aqui, celebrando esse mundo mágico – e o natural também “, finaliza Bruna Tavares, que voltou para o fundo do mar…

 

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