
Está tudo bem dizer em alto e bom som a frase ‘eu menstruei’
"Ainda não é mocinha?", escutava de algumas pessoas - como se existisse uma idade certa para isso.
enstruar foi um evento esperado por muitas das minhas amigas. Mas, para mim, esse momento demorou para acontecer. Enquanto elas compartilhavam suas primeiras experiências, eu esperava, me perguntando se meu corpo estava funcionando como deveria. “Ainda não é mocinha?”, escutava de algumas pessoas – como se existisse uma idade certa para isso.
Tive uma menarca – sim, esse é o nome “científico” para a primeira menstruação – “tardia” e me questionava se estaria tudo bem comigo: não havia informação em lugar nenhum, nem na escola e nem com a família. E eu me questionava de onde havia surgido tanto constrangimento para falar sobre o assunto. Por que algo tão natural é visto como tão errado?
Quando finalmente menstruei, foi um alívio misturado com estranhamento e, como tantas meninas, aprendi a esconder absorventes na manga do casaco e a sussurrar sobre dores e vazamentos. O silêncio ao redor da menstruação tornou normal um desconforto que não deveria ser normalizado.
Eufemismos como “naqueles dias” me faziam sentir que estar menstruada era quase como algo secreto, proibido de ser dito em voz alta. Eu também senti na pele as consequências da falta de produtos que realmente atendessem as necessidades das mulheres durante o período menstrual.
Quando finalmente comecei a conversar com outras mulheres sobre isso, percebi que todas carregavam experiências semelhantes. O incômodo com os produtos, a necessidade de se esconder, a falta de informação.
Em meio a um tema nebuloso e cheio de mitos é muito difícil lidar de forma positiva com a própria ciclicidade. Ao falarmos de educação menstrual, partimos do princípio que saber o que é a menstruação e entender o funcionamento do próprio corpo é um direito fundamental de toda menina, mesmo antes de passar por esta experiência e… estamos muito longe disso.
Vamos lá, leitor e leitora de CAPRICHO, pense comigo: a cada semana se fala de um novo tipo de smartphone, uma casa inteligente que controla tudo sozinha – e, enquanto isso, todo mês, nós menstruamos usando os mesmos protetores descartáveis há anos e falando baixinho sobre algo que sempre nos foi ensinado a esconder.
A menstruação é um problema, mas não estamos falando do fluxo, da cólicas e nem da TPM. O problema vem do tabu.
Desde a década de 30, não víamos uma real inovação nos protetores menstruais – que se preocupassem tanto com o bem-estar das mulheres, quanto do planeta. Por que estávamos há mais de 70 anos sem inovação menstrual? Será que basta simplesmente absorver a menstruação, sem se preocupar como as mulheres de fato se sentiam usando os protetores disponíveis? Como se sente uma menina que vai ter a primeira menstruação e descobre que vai passar 40 anos da sua vida usando algo que lembra uma fralda de bebê ou geriátrica?
Foi assim que nasceu a Herself – empresa que criei, e que tem uma collab incrível com a CAPRICHO – e empreender com menstruação foi um caminho sem volta para mim. Aqui nesse espaço, vamos conversar sobre esse tema de abertamente. Falar sobre o ciclo menstrual é também falar sobre liberdade, autoconhecimento e escolha. Menstruar não deveria ser um peso ou um segredo, muito menos fator limitante.
Hoje, quero que meninas vivam essa experiência sem medo, sem tabus, sem precisar esconder absorventes no bolso. A menstruação faz parte de quem somos, e quanto mais falamos sobre isso, mais natural se torna.
Podemos dizer em voz alta: eu menstruei.
E está tudo bem com isso.