Mal estamos respirando. Lembre-se disso na hora de votar.
Secas históricas, queimadas e incêndios criminosos só reforçam a necessidade de eleger pessoas comprometidas com o enfrentamento às mudanças climáticas.
provável que você, assim como eu, esteja respirando fumaça. No dia 9 de setembro, a cidade de São Paulo registrou a pior qualidade do ar do mundo em um ranking internacional. Rio Branco, capital do Acre, está com o ar quase 30 vezes mais poluído que o tolerável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A fumaça já cobre mais de 60% do Brasil, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e as previsões não são as melhores: a situação só deve apaziguar ao longo dos próximos meses.
O evento é uma combinação da seca histórica, das queimadas e dos incêndios criminosos que assolam o país. Especialistas explicam que, quando isso acontece, as correntes de ar responsáveis por transportar a umidade amazônica para outras regiões da América do Sul transformam-se em imensos corredores de fumaça, ou “rios de fogo”.
Os incêndios na Amazônia, e também no Pantanal e Cerrado, têm relação com o desmatamento e o agronegócio, onde o fogo é usado para destruir áreas verdes para convertê-las em pastos e lavouras. Eles são acentuados pelas secas, que, por sua vez, são intensificadas pelas mudanças climáticas e eventos como o El Niño.
Como podemos presenciar, esse é um problema que afeta todo mundo. E sabe o que mais afeta todo mundo? Eleições.
Estamos, oficialmente, em período eleitoral. No dia 06 de outubro, 155 milhões de eleitores e eleitoras devem ir às urnas para escolherem suas prefeituras e vereanças. Prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras que têm um compromisso com o combate às mudanças climáticas ainda são, ainda, poucos no Brasil — dada a magnitude e gravidade do problema.
Mas não há mais tempo para negacionismo, para fechar os olhos e fingir que não estamos, literalmente, pegando fogo. Defender a justiça socioambiental e a adaptação climática não deve mais ser uma questão de escolha. É questão de sobrevivência. Quem escolhe ficar alheio a isso, está alheio ao nosso bem-estar e saúde.
É de responsabilidade do poder público garantir medidas de justiça climática e a esfera municipal não fica de fora dessa equação: a crise é global, mas seus impactos são locais. Por exemplo, você sabia que são de responsabilidade do poder público municipal áreas como: Plano Diretor, medida que orienta a ocupação e desenvolvimento territorial dos municípios; Plano de Saneamento Básico; Plano de Gestão de Resíduos Sólidos; Plano de Mobilidade Urbana; Plano de Habitação de Interesse Social; Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil, que está totalmente relacionado aos desastres ambientais; Plano de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas; e Plano Municipal de Arborização.
A imagem de abre desta texto mostra o tempo seco e uma camada de poluição cobrindo o céu de São Paulo, Brasil, em 9 de setembro de 2024.
São Paulo teve o ar mais poluído do mundo neste dia, de acordo com a agência suíça IQAir. O ranking mede a qualidade do ar em cerca de 100 grandes cidades ao redor do mundo em tempo real, com base no Índice de Qualidade do Ar do instituto.
Não ache que isso é papo pra depois. Ou que o que está em jogo é nosso futuro. Não. O que está em jogo é, também, nosso presente. Estamos respirando fumaça hoje. Estamos vendo casas embaixo da água hoje. Estamos pegando fogo hoje. Então, vote pelo hoje — não só pelo nosso futuro.
Sendo honesta, nessas horas a sensação de apocalipse sempre me acomete. Ok, estamos em queda livre — como diz Ailton Krenak. E não deixa de ser verdade. Mas também não significa que não podemos agir em nada. Aqui, nesta coluna de setembro, eu quero te dizer que no dia 06 de outubro de 2024 existe algo que podemos, sim, fazer: votar pelo clima.
Votar pelo clima significa muito mais do que votar “pelo meio ambiente”. Votar pelo clima significa votar pelo direito das mulheres, porque elas são as mais afetadas pelo problema. Votar pelo clima significa votar pelo antirracismo, porque populações negras e indígenas são amplamente afetadas pelas mudanças climáticas. Votar pelo clima significa votar por adaptação, porque políticas de resiliência e desastres são centrais nessa agenda. Votar pelo clima significa votar por equidade social, porque a crise climática é uma crise de direitos humanos.
E votar pelo clima significa votar em pessoas que não são negacionistas, não endossam ou encobrem as queimadas criminosas e não defendem só os interesses do agronegócio e de grandes corporações.
Existe uma iniciativa que pode te ajudar nisso, chamada Vote pelo Clima. A plataforma, disponível online, conecta o eleitorado a candidaturas comprometidas no combate às mudanças climáticas nas cidades. Você pode pesquisar por filtros de região e partido e verificar as bandeiras que cada candidato ou candidata defende.
Votar pelo clima significa muito mais do que votar “pelo meio ambiente”. Votar pelo clima significa votar pelo direito das mulheres, porque elas são as mais afetadas pelo problema.
Bárbara Poerner, colunista da CAPRICHO
Após a inscrição, cada cadastro passa por uma análise que verifica a legalidade da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se acumula alguma infração ambiental e/ou se dissemina discursos antidemocráticos ou de ódio nas redes sociais. A mobilização é uma parceria entre o Clima de Eleição, instituto de advocacy climático que criou o Vote pelo Clima em 2020, e a organização NOSSAS.
Acesse o Vote pelo Clima, pesquise, vote e acompanhe candidaturas comprometidas com o amplo enfrentamento das mudanças climáticas. Nosso presente — e futuro — que estão em jogo.
Instituto Clima de Eleição, que incentiva a agenda climática na política brasileira
Climainfo, que discute energia, clima e mudanças climáticas
Famdons pela Amazônia, articulação de fã-clubes para incentivar a consciência e voto socioambiental