barbara poerner
o que você precisa saber sobre meio-ambiente - e para salvar o mundo. Bárbara Poerner
Bárbara Poerner é jornalista, documentarista e gestora de projetos na área socioambiental. Atua com organizações como Clima de Política, Instituto Caburé e Instituto Febre. É socióloga em formação pela FESPSP.
o que você precisa saber sobre meio-ambiente - e para salvar o mundo. Bárbara Poerner
barbara poerner Bárbara Poerner é jornalista, documentarista e gestora de projetos na área socioambiental. Atua com organizações como Clima de Política, Instituto Caburé e Instituto Febre. É socióloga em formação pela FESPSP.

Agroecologia é o futuro e a gente precisa falar mais sobre isso já

O mundo está pegando fogo. Mas precisamos também falar sobre algo inspirador e que nos dá pistas do país que queremos: a agroecologia. 

Por Barbara Poerner, especial para a CAPRICHO 17 ago 2025, 06h00
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Brasil está pegando fogo: PL da Devastação aprovado e mobilização nacional que pede o Veta, Lula, debates (necessários) sobre justiça tributária, plebiscitos pedindo o fim da escala 6×1… e hoje eu escolhi falar sobre algo inspirador e que nos dá pistas do país que queremos: a agroecologia. 

Essa vontade parte de viagens de campo recentes que realizei no mês de junho, onde passei alguns dias no interior da Paraíba e conheci a Rede Borborema de Agroecologia, em especial o assentamento Queimadas e as cidades de Arara, Areia e Remígio. Eu e Raquel Chamis, amiga que trabalha com sustentabilidade, fomos recebidas pela Suzana Aguiar, agricultora agroecológica e estudante de agronomia que nos guiou em diversas visitas (que, por conta do limite de textão, serão abordadas em outras colunas).

Conheci a Suzana em 2022, quando a entrevistei para um podcast, e, desde então, mantemos contato e desenvolvemos uma amizade à distância. A família da Su, como carinhosamente a chamamos, é campesina há cinco gerações e uma das primeiras que começou a plantar algodão agroecológico na Paraíba. 

A história é, em resumo, a seguinte: o nordeste brasileiro era um grande polo de produção de algodão, mas nos anos 1980 o bicudo-do-algodoeiro, conhecido como a praga do bicudo, dizimou a fibra na região. Anos depois, em 2004, o agricultor José de Cinésio, pai do cunhado de Su, começou a produzir o algodão agroecológico e sem veneno. Desde então, a agroecologia só cresceu, com a ajuda de outros parceiros, movimentos e instituições, e passou a fazer parte de diversas famílias paraibanas.

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E o que é agroecologia? Bom, essa definição é difícil e disputada. Mas vou tentar: a agroecologia é o manejo ecológico e responsável da terra e da natureza, que incorpora princípios de justiça social, direito ao território, equidade de gênero e antirracismo. Não se usam agrotóxicos, as plantações são diversificadas com várias culturas (como milho e batata-doce plantadas ao lado do algodão e amendoim) e o respeito aos modos de vida das comunidades são fundamentais. 

Nessa dinâmica, a liderança das mulheres é um fato. Desde as históricas Rachel Carson, Vandana Shiva e Ana Primavesi até Suzana, sua família e diversas outras agricultoras que não conseguirei nomear por serem muitas e diversas. 

O modelo convencional de produção agrícola, chamado de monocultura, é muito problemático. Vou usar o exemplo das nossas roupas para explicar: a fibra de algodão (aquela das nossas blusinhas e calças jeans) é uma das mais consumidas do mundo e o Brasil um dos cinco maiores produtores e exportadores. 

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Só que isso tem um preço. Atualmente, segundo o estudo Fios da Moda, a cotonicultura é responsável por aproximadamente 10% de todo o consumo de agrotóxicos no Brasil – muitos deles proibidos em outros países, como o glifosato, que está associado a mais de 25 doenças. Ainda, podemos somar as violações das comunidades rurais e indígenas, a dependência dos agricultores e agricultoras das sementes transgênicas, o empobrecimento do solo gerado pela monocultura… e por aí vai.

Citei a indústria da moda como exemplo, contudo a prática agroecológica pode se estender para diversos setores. Mais do que produzir uma fibra ou alimentos orgânicos, é sobre viver em comunidade e lutar por justiça social, revelando que uma alternativa aos modos convencionais tão violentos são possíveis. 

Encerro dizendo que o que vi, ouvi e senti nestes dias na Paraíba foi grandioso porque mostrou que tem muita gente não apenas resistindo às monoculturas do corpo, da mente e da terra, mas também encontrando formas de sustentar seus modos de vida, suas histórias, memórias e tudo aquilo que, no fim, nos faz humanas. 

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Ronda climática:

Para seguir: acompanhe a Suzana nas redes e conheça a Rede Borborema de Agroecologia;

Para ouvir: ouça o podcast “Algodão​ Agroecológico no Brasil, com Suzana Aguiar”, gravado com a Raquel Chamis, da Cora Design.

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