Permita-se ser uma pessoa ‘inútil’ para a sociedade por um tempo
Autoconhecimento é desobediência diante do que esperam de você. E saber quem você é com a tela desligada é bom demais.

m dia desses estava almoçando com amigas de trabalho e um grande debate sobre hobbies surgiu. Enquanto eu ouvia frases como “nunca tive um hobby” e “eu não sou boa em nada”, fiquei pensando em como a ausência de uma atividade de pausa é tão comum entre meninas e mulheres.
Não, rolar a tela do TikTok não é um hobby. Nem encher o carrinho da Shein.
Hobby é aquela atividade em que você consegue “desligar o cérebro”, sabe? Uma atividade que não está relacionada ao seu trabalho, e que permite uma pausa na rotina e no uso ativo das telas. Escrever, ler, pintar, dançar, tocar um instrumento, bordar, costurar, jogar bola, nadar, malhar.
A lista é infinita, apesar de muita de nós ficarmos travadas nesse campo na hora de preencher um questionário. Meninos, em geral, respondem rápido: futebol, videogame, colecionismo, álbum de figurinhas, etc.
Nessa busca para ajudar minhas amigas a encontrarem seus hobbies, encontrei Maiara Cruz, 22, designer e artista, e Maria Julia Pollo, 23, arquiteta, que passaram por uma conversa parecida e foram além: criaram a Um Hobbie Por Vez. A ideia é que, com um valor fixo mensal, mulheres possam receber materiais mensais de hobbies diferentes.
Perguntei a elas por qual motivo acham que mulheres ainda têm uma barreira antes de encontrar seus hobbies: “Ainda existe uma expectativa cultural forte de que mulheres precisam estar sempre disponíveis para os outros e que fazer qualquer coisa para si mesma pode ser considerado egoísmo”, me disseram em um texto assinado por ambas. Elas também pontuaram que algumas atividades relacionadas a mulheres são vistas como “fúteis”.
Autoconhecimento é desobediência diante do que esperam de você. E saber quem você é com a tela desligada é bom demais.
Além disso, acrescento que a discussão sobre hobby esbarra também na discussão sobre produtividade, mas um aviso: você pode ser ruim no que escolher fazer. O hobby não precisa ser a porta de entrada para uma nova profissão. Pintar mal, dançar mal, ser a nadadora mais lenta da piscina, tanto faz: a atividade é para você descansar a própria cabeça, não tem competição. Não precisamos tentar ser a melhor sempre, apesar do tempo todo alguém nos dizer o contrário.
Maiara e Maria Júlia me contaram que a maior parte das assinantes da empresa delas já tem mais de 30 anos, é casada e com filhos. Nunca é tarde para desenvolver sua própria identidade, mas pode ser muito mais legal investir em mais essa forma de autoconhecimento quanto antes.
Caminhar, ler, dançar, correr, desenhar são algumas das opções que você pode começar hoje mesmo. Você pode escolher um ou vários. Mas tenha ao menos um. Autoconhecimento é desobediência diante do que esperam de você. E saber quem você é com a tela desligada é bom demais.