Lola Ferreira colunista negritude CAPRICHO
para pensar feminismo e negritude em uma perspectiva diferente. Lola Ferreira
Lola Ferreira é repórter com trajetória focada em questões de gênero e raça. Começou na Capricho, rodou veículos do Brasil inteiro e voltou para falar sobre isso e mais.
para pensar feminismo e negritude em uma perspectiva diferente. Lola Ferreira
Lola Ferreira colunista negritude CAPRICHO Lola Ferreira é repórter com trajetória focada em questões de gênero e raça. Começou na Capricho, rodou veículos do Brasil inteiro e voltou para falar sobre isso e mais.

Permita-se ser uma pessoa ‘inútil’ para a sociedade por um tempo

Autoconhecimento é desobediência diante do que esperam de você. E saber quem você é com a tela desligada é bom demais. 

Por Lola Ferreira, colunista da CAPRICHO 25 Maio 2025, 06h00
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m dia desses estava almoçando com amigas de trabalho e um grande debate sobre hobbies surgiu. Enquanto eu ouvia frases como “nunca tive um hobby” e “eu não sou boa em nada”, fiquei pensando em como a ausência de uma atividade de pausa é tão comum entre meninas e mulheres.

Não, rolar a tela do TikTok não é um hobby. Nem encher o carrinho da Shein.

Hobby é aquela atividade em que você consegue “desligar o cérebro”, sabe? Uma atividade que não está relacionada ao seu trabalho, e que permite uma pausa na rotina e no uso ativo das telas. Escrever, ler, pintar, dançar, tocar um instrumento, bordar, costurar, jogar bola, nadar, malhar.

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A lista é infinita, apesar de muita de nós ficarmos travadas nesse campo na hora de preencher um questionário. Meninos, em geral, respondem rápido: futebol, videogame, colecionismo, álbum de figurinhas, etc. 

Nessa busca para ajudar minhas amigas a encontrarem seus hobbies, encontrei Maiara Cruz, 22, designer e artista, e Maria Julia Pollo, 23, arquiteta, que passaram por uma conversa parecida e foram além: criaram a Um Hobbie Por Vez. A ideia é que, com um valor fixo mensal, mulheres possam receber materiais mensais de hobbies diferentes. 

Perguntei a elas por qual motivo acham que mulheres ainda têm uma barreira antes de encontrar seus hobbies: “Ainda existe uma expectativa cultural forte de que mulheres precisam estar sempre disponíveis para os outros e que fazer qualquer coisa para si mesma pode ser considerado egoísmo”, me disseram em um texto assinado por ambas. Elas também pontuaram que algumas atividades relacionadas a mulheres são vistas como “fúteis”. 

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Autoconhecimento é desobediência diante do que esperam de você. E saber quem você é com a tela desligada é bom demais. 

Além disso, acrescento que a discussão sobre hobby esbarra também na discussão sobre produtividade, mas um aviso: você pode ser ruim no que escolher fazer. O hobby não precisa ser a porta de entrada para uma nova profissão. Pintar mal, dançar mal, ser a nadadora mais lenta da piscina, tanto faz: a atividade é para você descansar a própria cabeça, não tem competição. Não precisamos tentar ser a melhor sempre, apesar do tempo todo alguém nos dizer o contrário.

Maiara e Maria Júlia me contaram que a maior parte das assinantes da empresa delas já tem mais de 30 anos, é casada e com filhos. Nunca é tarde para desenvolver sua própria identidade, mas pode ser muito mais legal investir em mais essa forma de autoconhecimento quanto antes. 

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Caminhar, ler, dançar, correr, desenhar são algumas das opções que você pode começar hoje mesmo. Você pode escolher um ou vários. Mas tenha ao menos um. Autoconhecimento é desobediência diante do que esperam de você. E saber quem você é com a tela desligada é bom demais. 

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