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Gautier Lee
Gautier Lee é cineasta, não-binária, negra e lésbica. Trabalhou em séries para a Amazon, Netflix, Globoplay e Comedy Central, tendo escrito as séries Auto Posto, Depois Que Tudo Mudou e De Volta aos 15, da qual também é diretora. É apaixonada por comédias românticas e narrativas teen.
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Gautier Lee é cineasta, não-binária, negra e lésbica. Trabalhou em séries para a Amazon, Netflix, Globoplay e Comedy Central, tendo escrito as séries Auto Posto, Depois Que Tudo Mudou e De Volta aos 15, da qual também é diretora. É apaixonada por comédias românticas e narrativas teen.

Entender os efeitos da política no dia a dia me fez ter mais consciência

E se eu conseguir ajudar uma única pessoa a entender isso também, eu sei que já terei feito a diferença.

Por Gautier Lee, colunista da CAPRICHO Atualizado em 16 mar 2024, 10h56 - Publicado em 16 mar 2024, 10h55
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primeira vez que votei foi em 2010. Eu recém tinha feito 17 anos e mal podia esperar para usar o bendito Título de Eleitor que a minha mãe tanto tinha me pressionado para fazer. Apesar do motivo de tanta encheção de saco ser o fato dela querer que eu votasse nos candidatos dela, ainda assim estava ansiosa para usá-lo na esperança de fazer alguma diferença no cenário político do meu país.

Nas vésperas do primeiro turno, um rapaz me abordou na rua para uma pesquisa eleitoral. Como amo dar pitacos, aceitei de imediato. Ele me perguntou o meu nome e a minha idade e quando respondi, ele voltou atrás e disse que só poderia entrevistar maiores de 18. Eu reclamei, afinal já estava em idade eleitoral, mas ele não cedeu.

Voltei pra casa ainda chateada. Se cada voto faz diferença, por que o meu não fazia para aquele rapaz? Sabia que urnas e pesquisas são coisas bem diferentes. Mas foi difícil ignorar a sensação de me sentir invisível. A lei não me obrigava a votar, as pesquisas não queriam a minha opinião e meus pais só queriam mais um voto para os candidatos que eles apoiavam. Que diferença eu faria nessas condições?

Se cada voto faz diferença, por que o meu não fazia para aquele rapaz? Sabia que urnas e pesquisas são coisas bem diferentes. Mas foi difícil ignorar a sensação de me sentir invisível.

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E a princípio, achei que nenhuma. A pessoa candidata ao cargo de Presidente da República em quem eu votei no primeiro turno não avançou na disputa. Em casa, tentaram de tudo para que eu contasse o meu voto. Poderia ter mentido, mas preferi evocar a lei (amém, três períodos na faculdade de Direito!) e não dizer (amém, voto secreto!).

No segundo turno, entre as duas possibilidades que restaram, a que eu mais me identificava era a pessoa que meus pais apoiavam, então votei nela. Mas votei sem fazer ideia do plano de governo dela. Desculpa, preciso me corrigir: eu votei sem fazer ideia do que era um plano de governo.

Nas eleições de 2012 foi ainda pior. Havia muito mais cargos para serem votados e, consequentemente, mais candidatos. Dessa vez meus pais me deram um santinho já com todos os números dos candidatos que eu “precisava” votar. Votei em quase todos, exceto um que eu substituí pelo irmão de uma atriz de uma novela que eu acompanhava. É necessário dizer aqui: não sigam o meu exemplo!

Entender os efeitos da política no nosso cotidiano me motivou a, genuinamente, tentar fazer a diferença. E se eu conseguir ajudar uma única pessoa a entender isso também, eu sei que já terei feito a diferença. Será que essa pessoa é você? Bem, eu torço que sim.

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Por mais que quisesse que meu voto fosse útil, eu já havia perdido as esperanças na democracia e aceitado que votar não faz diferença. Esse pensamento durou até meados de 2015, quando o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff foi protocolado. Na época, eu era ProUnista em uma faculdade que eu tinha zero chances de pagar. Passar por essa experiência e acompanhar todo o processo de impeachment me fez perceber o quanto a política afetava a minha vida. E essa percepção foi aumentando com o passar dos anos. Em 2015 percebi que dependendo de quem assumisse a presidência, eu poderia perder a minha bolsa de estudos ou ter o meu auxílio moradia cortado.

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Já em 2018, notei que deveria levar meu voto a sério e dá-lo a pessoas que de fato estivessem defendendo pautas do meu interesse, como o acesso à educação (que me permitiu estudar de graça), o fomento à cultura (necessário para a minha carreira no Cinema acontecer) e a maior de todas elas: o preço do ingresso de shows internacionais.

Esse sentimento só se intensificou depois que vi duas meninas, na faixa dos 16 anos, dizendo que iam votar no candidato que havia virado meme naquele ano. Claro que todo mundo tem o direito de votar em quem quiser, é justamente por isso que o voto é secreto. Mas foi decepcionante ver como as pessoas estavam dispostas a brincarem com seus votos – ainda mais em uma eleição tão importante quanto a de 2018.

Passar por essa experiência e acompanhar todo o processo de impeachment me fez perceber o quanto a política afetava a minha vida. E essa percepção foi aumentando com o passar dos anos. Em 2015 percebi que dependendo de quem assumisse a presidência, eu poderia perder a minha bolsa de estudos ou ter o meu auxílio moradia cortado.

Tenho esperança de que hoje em dia aquelas meninas tenham reconhecido que a política não se limita a partidos e eleições, ela está presente em todas as esferas das nossas vidas. E tenha essa esperança, pois foi o que aconteceu comigo. Entender os efeitos da política no nosso cotidiano me motivou a, genuinamente, tentar fazer a diferença. E se eu conseguir ajudar uma única pessoa a entender isso também, eu sei que já terei feito a diferença. Será que essa pessoa é você? Bem, eu torço que sim.

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