Ainda bem que temos as ‘sáficas’
Se Lud e Brunna são um casal já consolidado, ganhamos recentemente uma nova sáfica que se revelou há pouco: Billie Eilish.
u não manjo de astrologia. Não sei o que é um ascendente, um decanato e mal sei os 12 signos em ordem. Mas vejo falarem muito, diversas vezes no ano — o que me assusta um pouco — sobre o bendito mercúrio retrógrado. Perguntei a algumas amigas e elas me explicaram o conceito, mas tudo que consegui absorver foi “período onde tudo vai dar errado na sua vida”. E a partir disso comecei a questionar, qual o oposto do mercúrio retrógrado? Um plutão progressista, talvez? Eu não sei nomear, mas eu acho que, enquanto sáfica, nós estamos passando por esse momento na indústria do entretenimento.
Nos últimos meses, pessoas sáficas têm aberto espaços no meio cultural mainstream. Temos Ludmilla anunciando a turnê do Numanice 3, onde está garantido que veremos a performance icônica de Maldivas com a esposa dela, Brunna Gonçalves. O relacionamento da cantora e da bailarina não é novidade, a novidade é termos duas mulheres pretas LGBT+ de periferia dominando os palcos e telas de todo o Brasil. É o tipo de coisa que meu eu adolescente adoraria ver, por também ser uma pessoa LGBT+ de periferia, e não consigo não amar que eu possa ver um casal como esse existindo.
Mas se Lud e Brunna são um casal já consolidado, ganhamos recentemente uma nova sáfica que se revelou há pouco: Billie Eilish. A cantora disse nunca ter escondido a própria sexualidade, mas tampouco a colocou sob os holofotes. Até que o Hit Hard and Soft, o álbum mais recente da cantora, foi lançado. Nele Billie fala, entre outros assuntos, sobre sua experiência enquanto pessoa queer. O primeiro single, LUNCH, me pegou de cara. E eu arrisco dizer que a faixa vai ter um impacto na cultura sáfica do mesmo jeito que I Kissed a Girl, da Katy Perry, teve, porém para uma geração completamente diferente e com uma roupagem atualizada.
Mas além das cantoras previamente citada, temos uma lésbica bastante vérsatil — se me permitem a piada boba — que tem chamado a atenção tanto no audiovisual como na música: Reneé Rapp. Ela é minha crush desde The Sex Lives of College Girls, série na qual ela interpreta Leighton Murray, uma patricinha lésbica e enrustida que passa pelo processo de se assumir durante a faculdade.
Se por anos sofremos com a falta de representatividade ou com o clichês de “a lésbica morre no final”, hoje posso ver um fiapo de esperança de que obras e pessoas sáficas tenham cada vez mais visibilidade
Gautier Lee
Além disso, Reneé assumiu também a coroa que antes pertencia a Rachel McAdams como Regina George na nova versão musical do clássico Mean Girls. E como se esses créditos não fossem suficientes, a atriz também é cantora. Confesso que recém estou me apaixonando por esse lado dela, mas Not My Fault tem tomado conta dos meus fones de ouvido nas últimas semanas.
Infelizmente não consigo citar em uma única coluna todos os nomes importantes dentro da indústria do entretenimento como Kristen Stewart ou Chappell Roan. Mas felizmente não estando sendo abençoada apenas com pessoas sáficas, mas também com obras como Bottoms e Loves Lies Bleeding.
Se por anos sofremos com a falta de representatividade ou com o clichês de “a lésbica morre no final”, hoje posso ver um fiapo de esperança de que obras e pessoas sáficas tenham cada vez mais visibilidade para que possamos consumir conteúdos que dialoguem com a nossa experiência. E acredito genuinamente que o plutão progressista possa nos trazer isso.