Sítio do Picapau Amarelo e a discussão sobre adaptar e atualizar clássicos
Blog da Galera bateu um papo com Linda Deterling, que interpreta a personagem Emília na nova série infantil do SBT, adaptação da obra de Monteiro Lobato
famosa série de livros escrita pelo brasileiro Monteiro Lobato, Sítio do Picapau Amarelo, ganhou uma nova adaptação nas telinhas neste ano – dessa vez no SBT, com direção de Jefferson Cândido. A primeira temporada de ‘O Picapau Amarelo’, no entanto, dividiu opiniões: enquanto parte do público se empolgou com a ideia de uma nova versão, outros questionaram se é uma boa ideia adaptar o passado da literatura de Lobato para os dias atuais.
Afinal, é inegável: Monteiro Lobato é um escritor muito polêmico para a atualidade e seus livros trazem algumas ideias, falas e situações muito retrógadas e que não seriam aceitas hoje em dia, com toda a razão. Não à toa a historiadora e bisneta do escritor, Cleo Monteiro Lobato, criou um projeto para recontar as história de seu antepassado em novas edições e “re-energizar o legado dele”.
Linda Deterling, que interpreta a personagem Emília na nova série infantil do SBT, diz que também entende que a literatura vem através do tempo, nos acompanhando culturalmente. “E não é diferente se tratando das obras de Lobato, já que estamos falando de histórias escritas há pouco mais de cem anos”, afirma em entrevista ao Blog da Galera. Ela conta que, como uma missão, tiveram todo o cuidado e cautela para fazer com que a adaptação acompanhasse as visões e conceitos atuais, e, ao mesmo tempo, “resgatar à infância das crianças dessa geração, através dos personagens clássicos com toda suas essências e histórias” .
“O público infantil e infanto-juvenil da atualidade se mostra mais complicado e difícil comparando a outras gerações e carecem muito dessa essência de ludicidade e imaginação. A proposta do SBT é alcançá-los por meio de histórias, músicas, receitas, experiências, ensinamentos, cultura e folclore”, analisa.
Para isso, ela conta que foi necessário um trabalho em equipe envolvendo toda a produção em si, desde a ideia primordial, aos roteiros e direção, e claro pela construção de cada personagem. “Devo confessar que a Boneca de Pano se mostra a personagem mais desafiadora e complexa de reinventar, simplesmente por ela ser como é, e falar como fala”, diz sobre o papel que recebeu em 2022 pelo diretor Jefferson Cândido e que divide com Débora Gomez, que também interpreta Emília em ‘O Picapau Amarelo’.
A nova Emília
Linda conta que, desde pequena, na escola, era fascinada pela cultura e folclore do Brasil. Seu pai João sempre lhe contava sobre as histórias e personagens das nossas lendas, entre elas, as de Lobato. “Me sinto muito afortunada de ter vindo de uma família muito adepta à arte, apesar das dificuldades. Eu sou a sétima de sete filhos, sempre incentivados pelos pais, Dona Jussara e Sr. João a seguir os sonhos e fazer o que quer”, diz com orgulho ao relembrar o esforço da família para pagar suas aulas de ballet e depois de teatro.
A primeira vez como Emília foi quando era muito jovem, na festa a fantasia da escola, em 2001. Desde sempre, ela se identificou com a personagem por ser “astuta, faladeira, curiosa, audaciosa e corajosa”. “Eu queria muito ir de Emília, mas não tínhamos condições de comprar a fantasia, então pegamos emprestado o vestido de uma boneca daquelas de um metro da Emília, fizemos várias trancinhas nos meus cabelos, pintamos meu par de tênis e estava pronta”, relembra. “A partir desse dia, mesmo tão simples, eu queria estar de Emília todos os dias”, completa.
Depois do sucesso, Linda recebeu convites de outras escolas para me apresentar como Emília. Anos depois, ela foi chamada para participar da série do SBT, e aí chegou a hora de construir a sua maneira essa boneca, botão por botão, para colocá-la na televisão. Ela, então, estudou sua sua geração e as Emílias do passado. Suas principais inspirações e referências foram Lúcia Lambertini, Zodja Pereira, e Suzana Abranches. Segundo a atriz, grande parte de modelar o Sítio para os dias de hoje foi pelas mãos do diretor Jefferson que é um grande pesquisador e colecionador da obra de Lobato.
“Construir uma personagem centenária tão icônica e atemporal é uma responsabilidade enorme. É um trabalho minucioso, e tive todo cuidado ao capturar a essência primordial da personagem através das obras originais de Lobato”, conta. E continua: “vale ressaltar que a Emília nada mais é do que o Alter Ego de seu criador, e, de certa forma, ela sempre foi polêmica, falando livremente tudo o que queria e até que não deveria falar”.
Linda e a equipe precisou, então, filtrar e saber até onde a personagem poderia ir, analisando até o que poderia falar, mas sem perder a sua originalidade e jeitinho. Mas todo esse trabalho, segundo ela, valeu a pena. “Receber o carinho, principalmente das crianças, é gratificante. Há quem critica, mas a maior parte do público está recebendo de braços e mentes abertas essa nova adaptação. É muito legal quando eles reconhecem referências marcantes de outras versões e elogiam”, finaliza.