Gif animado com um lettering da Galera Capricho 2024, nas cores verde, azul e preto. O fundo muda de cor
https://capricho.abril.com.br/noticias-sobre/galera-capricho Galera CAPRICHO
Espaço de troca de conhecimento da Galera CAPRiCHO. Um grupo de jovens engajados de 13 a 18 anos que chamamos de leitores-colaboradores e que participam ativamente da vida da redação.
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Ser menina negra é carregar o fardo de ser vista de forma distorcida

Mulheres negras têm o direito de descansar, chorar, amar e serem vulneráveis sem serem julgadas.

Por Heloisa Santana 2 ago 2025, 17h00
O

iê, galera! Meu nome é Heloisa (mas pode me chamar de Helo) e hoje quero conversar com vocês sobre um tema que tem batido forte por aqui. Vou misturar um pouco da minha vivência com situações que vejo acontecendo ao meu redor — coisas que, infelizmente, ainda fazem parte da rotina de muitas mulheres e jovens, assim como eu.

Um dia, quando eu tinha 12 anos, um aluno branco chamou uma criança negra do livro de História de “macaca”. Eu não estava presente, mas, no dia seguinte, minhas colegas (em uma sala onde eu era a única menina negra) me contaram o ocorrido e disseram que eu precisava confrontá-lo. Quando eu perguntava por que, elas respondiam: “porque você é a mais briguenta daqui”.

A partir daquele momento, comecei a perceber como minha presença e minhas reações eram sempre interpretadas de forma diferente. Ser mulher negra é carregar, todos os dias, o fardo de ser vista de forma distorcida. Quando lutamos pelo nosso lugar no mundo, somos chamadas de barraqueiras, briguentas, brutas e agressivas — enquanto mulheres brancas, em situações parecidas, são descritas como determinadas, decididas e “empoderadas”.

Outro dia, fiquei pensando como é cansativo estar em lugares onde quase todo mundo é branco — seja na escola, no trabalho, na faculdade, em qualquer espaço. Tudo o que a gente faz é observado de um jeito diferente. Falar num tom normal já parece gritaria. Se a gente se defende de alguma coisa, logo dizem que estamos exagerando.

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A verdade é que a sociedade criou — e continua reforçando — estereótipos sobre mulheres negras. A gente é mostrada como brava, mandona, “fortona”. Mas essa tal “força” nem sempre é real. Muitas vezes, é uma armadura que fomos obrigadas a vestir pra nos proteger.

E isso não acontece só no dia a dia da gente. Até no mundo pop, onde tudo parece mais livre, esses estereótipos aparecem com força. A Nicki Minaj, por exemplo, vive sendo criticada por ser “exagerada” ou “vulgar”, mesmo fazendo o que várias artistas brancas fazem — e nelas é visto como ousadia. Já a Beyoncé foi super atacada quando usou o palco do Super Bowl pra celebrar a negritude e a luta do povo preto. Disseram que ela era radical e agressiva, só porque se posicionou. O que em outras mulheres seria chamado de “atitude”, nas negras vira motivo de julgamento.

Com frequência, sentimos que precisamos nos moldar ao ambiente para sermos aceitas, amadas ou, ao menos, não abandonadas. O preço disso é alto: silenciar nossas dores, conter nossa presença, suavizar nossa verdade. E tudo isso para evitar os comentários racistas que, muitas vezes, não surgem do nada, mas como punição — porque ousamos nos defender antes.

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Algumas mulheres negras, com medo de serem atacadas, acabam atacando primeiro. Mas isso, mesmo sendo uma defesa, acaba reforçando os mesmos estereótipos que a gente quer desconstruir. Por isso, é importante olhar pra dentro, entender o que sentimos e aprender a se defender com firmeza, sem cair na armadilha de parecer agressiva só por reagir.

Não somos brutas. Somos complexas. E merecemos existir sem sermos resumidas ao que esperam de nós.

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