Devi, de Eu Nunca..., série da Netflix deitada na cama de barriga para baixo, olhando para frente com os pés levantados e tem a expressão reflexiva e confusa; ao fundo é possível ver fotos formando um coração na parede verde e um filtro dos sonhos acima da cama e entre cortinas cor de creme; a personagem usa calça jeans e blusa azul

Comportamento

Quando crescer virou obrigação, e adolescentes ficaram invisíveis?

Já parou para reparar na pressão que nós sofremos para amadurecer logo e começar a agir como adultos? Você não está sozinho nessa

Por Karina Souza 23 ago 2025, 17h00

uando criança, todos pensam em ser adolescente. Quando adultos, todos querem voltar a ser adolescente. Mas e a gente? A gente gosta de ser adolescente? O mais importante, nós nos reconhecemos como adolescentes? Vamos conversar sobre isso hoje, leitor do Blog da Galera.

Uma das minhas coisas favoritas da vida é ver filmes. De diferentes décadas, de preferência. E nesse meu hobby, me deparo com muitos filmes de adolescente que representam a adolescência em diferentes tempos. Toda vez que termino um filme nesse estilo, eu não consigo não pensar que não aproveito a minha adolescência do jeito que deveria. Não só isso, mas quando me olho no espelho, não vejo em mim a imagem de uma adolescente; vejo algo, mas não isso.

Eu fico me fazendo inúmeras perguntas complexas sobre o que eu sou e se essas coisas são características de uma adolescente ou não. Teve um dia que eu cansei de me fazer essas perguntas e decidi discutir sobre isso com os meus amigos. Eu cheguei e falei: “gente, deixa eu abrir um tópico aleatório aqui. Vocês se reconhecem como adolescentes? Quando vocês se olham no espelho, vocês enxergam a imagem de um adolescente?”.

Lembro que uma das minhas amigas respondeu que ela não se sente uma adolescente, porque, muitas vezes, ela tem que pensar como uma adulta. E foi nessa resposta que eu percebi que não estava sozinha e a pressão que nós sofremos para amadurecer logo e começar a agir como adultos atinge todos. Essa pressão, que para quem não é adolescente é algo positivo, para nós ela nos tira a oportunidade de sermos e agirmos como um.

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Temos tanto que ser adultos que esquecemos que, às vezes, nós podemos ser imaturos, inseguros, simplesmente errar e que não precisamos saber tudo sobre nós e nosso futuro. Amadurecer é um processo lento que é construído com o tempo. Muitos adultos não são maduros e cismam em cobrar amadurecimento de nós.

Não só essa pressão, mas a falta de representatividade também ajuda nisso. Eu e essa mesma amiga compartilhamos o hábito de ver novelas e constantemente estamos falando sobre isso. Recentemente, ela me contou que estava assistindo “Malhação: Viva a Diferença” e isso me fez pensar em como essa série era importante para a juventude e como representava os seus problemas e conflitos de um jeito que causava identificação.

Com o tempo, as séries e filmes adolescentes com dilemas e jovens reais foram substituídos por atores de 30 anos que já passaram dessa fase a um bom tempo e narrativas fantásticas muito fora da realidade de qualquer um (hello, Riverdale!!). Que tipo de representação essas histórias passam para nós?

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Os conteúdos deixaram de representar uma adolescência verdadeira e isso causa uma distorção na imagem de como essa fase é, tanto física como mentalmente, para nós. Quando, no início do texto, eu digo que ao olhar no espelho eu não vejo uma adolescente, eu tenho a total noção que é culpa desse fator em específico. Não tem como negar que a representação estereotipada afeta diretamente como nos vemos.

Não só isso, mas a ausência de séries como “Malhação” e “Confissões de Adolescente” é um indício de como a adolescência é uma fase que, hoje, está sendo negligenciada, tratada como sem importância e sem uma preocupação profunda. Deixaram de nos ver, entender e retratar.

Tratam essa fase como se fosse só um período de transição, como se não fosse nada demais e que deve ser ignorada. Quando, na verdade, precisamos passar pelas experiências dela para amadurecer e chegarmos na fase adulta mais preparados. A pressão da sociedade sobre a gente anda junto com a falta de representatividade e nos faz sentir que estamos perdidos nesse mundo confuso.

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Ser adolescente não é fácil, mas entre pressões e crises existenciais temos os risos, as memórias, os aprendizados e nossa identidade. Por isso, não importa o quanto a sociedade nos atinja, ainda temos a nossa juventude para viver e nos fazer ser ouvidos.