Estudantes encontram na moda uma forma de resgatar histórias e recontá-las
Estes 6 projetos de moda vão te inspirar a usar sua criatividade, mostrar sua visão de mundo e identidade

aí, leitores do Blog da Galera? Me chamo Isabella Iori, e, neste meu primeiro texto aqui, quero compartilhar tudo que eu vi de legal na 2° Edição da Faufest, que rolou no mês passado. Em resumo, é um evento de moda totalmente criado por estudantes de estilismo, produção de moda, e modelagem, de todas as idades, do Senac da Lapa Faustolo.
Mas é muito mais do que isso: é uma vitrine de talento e criatividade onde os novos protagonistas da moda tem a chance de apresentarem suas visões para o futuro do mercado. Separei alguns projetos feitos por essa galera talentosa que vocês irão amar conhecer, assim como eu!
Laços invisíveis
Encabeçado pela estudante Katerine Zamanta, Laços Invisíveis busca trazer memórias, artefatos, objetos que estão talvez invisíveis no cotidiano. Cada peça reflete uma memória afetiva que Katerine materializou para esse projeto.
O projeto tem a forte presença da cor azul, que reflete ao lago Titicaca, que fica na fronteira entre o Peru e a Bolívia, lago que visitou em uma viagem que fez com sua avó Margarida.
A cor, que significa sua avó e traz a memória dessa viagem, foi naturalmente tingida nos retalhos de tecidos de linho da oficina de seu pai com pigmento de Índigo, extraído de uma planta que cresce em diversos países e carrega consigo a história de inúmeros povos, um símbolo de ancestralidade e tradição. “Esses tecidos estavam parados e iriam pro lixo, mas hoje eu trago uma nova visão, uma nova peça, com um novo significado”, conta a jovem.
Inspirada pela memória afetiva de seu pai, que costumava tocar no violão a canção boliviana “Por Un Mundo Nuevo”, Katerine registrou na peça o desenho de uma mão dedilhando as notas, como uma tentativa de capturar a música e aquela lembrança. Costurou, ponto a ponto, a imagem nostálgica, unindo arte e afeto em uma criação.

Visage
Desenvolvido pelas estudantes Bianca Hermogenes, Daniele Peixoto, Kelly Rocha e Michelle Navarro, temos a revista Visage. Em francês, significa face ou aspecto, o nome escolhido reflete o objetivo da revista: buscar a individualidade e reforçar o autoconhecimento.
A ideia partiu da necessidade de criar um meio de comunicação que engaje a curiosidade e que fugisse um pouco dos algoritmos das redes e a rolagem massante dos feeds, que, muitas das vezes, não trazem algo inovador, já que são baseados em algoritmos criados pelas próprias redes.
“Estamos na era digital, então, vemos os mesmos conteúdos, que rodam e rodam e acabam na mesma coisa. Não é algo pensado para a Geração Z ou para Geração Millennial, são para pessoas curiosas que buscam se conhecer e querem consumir conteúdos que sejam relevantes hoje em dia”, diz Daniele Peixoto, editora-chefe da revista Visage.
A revista traz diversos tópicos como moda, política, projeto dos estilistas que participaram da Casa de Criadores, e também uma entrevista com a Nath Araújo (ou Nanaths). A Nath conta um pouco sobre o autoconhecimento em relação a identificar seu próprio estilo. Ela reforça que, mesmo que tenhamos um milhão de referências sobre outfits no Tiktok, Instagram e Pinterest, nada irá substituir você e um espelho. Afinal, foi experimentando roupas e se vendo que ela foi identificando seu estilo e aquilo que combinava com a sua personalidade e seus gostos.
Nessa mesma pauta, a estilista e modelo Ofelia Brosco, que também foi capa da Visage, conta um pouco sobre sua jornada criativa, abordando os processos e referências que influenciaram seu trabalho. Com uma história que inclui experiências com cerâmica, uma marca de roupas tie-dye, uma loja de acessórios e criações com roupas de papelão e cola quente, até chegar na sua marca, Ofegallery. Ofelila destaca que a compreensão de que o autoconhecimento é um processo contínuo e dinâmico foi essencial para a evolução de sua arte. Para a estilista, desviar de uma lógica tradicional de criação e produção foi a chave para se conectar com a arte do seu próprio jeito.

Auras de Si
Giulia Gouvea evidencia o desabrochar da autoestima, trazendo o empoderamento e a força da mulher com o seu projeto “Auras de si”. A pressão estética sempre atravessou Giulia e ela viu seu trabalho como uma forma de dar uma resposta positiva para esse problema.
“Quis desenvolver algo que falasse sobre mulheres, que se empoderam, que desabrocham, que conseguem se entender dentro da sua autoestima…Quis retratar esse passo a passo, de você sair de um espaço de pressão estética, até você se desabrochar e florescer”, explica.

A presença marcante entre as cores preto, vermelho e cinza, não foram escolhidas à toa. Para Giulia, essas cores refletem o processo de autoaceitação e empoderamento até desabrochar e florescer.
Oferecendo uma variedade de tamanhos do 34 ao 64, cada peça foi desenhada para valorizar diferentes tipo de silhueta, para mulheres que desejam confiança e estilo no que vestem.
Sub Culturas
Idealizada pelos estudantes Claudia Lislei, Helô Senna, Jairo Ferreira e Victor Brandolin, nasceu a marca U-Bene, com o projeto Sub Culturas. Ele tem como inspiração a cultura dos anos 70 e 80, que tiveram a repressão da ditadura militar e trabalharam com gêneros musicais, como MPB, Bossa Nova e o Samba, que serviram naquela época de censura.
A apresentação trouxe monóculos que remetem ao período, e um fashion film com a narração do release trazendo a identidade visual, os elementos do projeto e o sound baseado nessas culturas musicais.
O projeto busca honrar e valorizar a história de luta e celebrar as singularidades que compõem a identidade brasileira, fruto de misturas que reconhecem a importância dessas expressões culturais na formação de um Brasil diverso.

Vampire Kingdom
A aluna Vicky Caparros uniu a estética vampiresca junto com o streetwear e criou a Marca Gatto Nero e a coleção Vampire Kingdom. A ideia surgiu da falta de roupas com boa qualidade e um estilo diverso para quem curte a estética gótica.
“Sempre quis fazer uma marca voltada para a sub cultura gótica. Atualmente, no Brasil, é difícil encontrar roupas com essa estética, não são acessíveis e nem tem boa qualidade. Eu queria fazer com que as pessoas tivessem também uma rede de apoio, que não fosse só uma loja de roupas, mas também um refúgio para se sentirem seguras, para que pudessem demonstrar quem são a partir do estilo”, diz.
A coleção apresenta peças em veludos, caimentos, e cortes que valorizam a silhueta de forma elegante. O design propõe um diálogo criativo entre a moda e a arte sombria da estética vampiresca, explorando elementos do universo gótico de forma moderna. Além disso, valoriza a beleza das sombras e das texturas, oferecendo roupas que transcendem tendências e se tornam verdadeiras expressões de personalidade.
“Não queria fazer mais do mesmo, pensei em pegar subvertentes do gótico e fazer várias versões, foi quando pensei na estética vampiresca, e pensei: ‘como irei fazer vestidos da era vitoriana?’. Foi aí que tive a ideia de juntar o passado com o futuro, a era vitoriana no estilo atual, como se fossem vampiros modernos e estilosos”, completa Vicky.

The Way
Inspirada na jornada de de autodescoberta da Dorothy, em O Mágico de Oz, a estudante Vicky Vinter mistura elementos do StreetWear trazendo a coleção The Way.
As peças fazem referência aos personagens: a jaqueta traz a estrutura do homem de lata, com o coração que era o que o personagem buscava, o azul traz a Dorothy, o amarelo reflete o homem de palha, e o leão está presente no anel que os modelos usam, feito em 3D.
“Os fios dourados nas dobraduras das peças refletem o que a amizade pode fazer com a gente, a Dorothy sempre pôde ir para a casa, era só bater os sapatinhos vermelhos, mas ela teve que encontrar todos os amigos que ela fez e mostrar a eles que eles tinham tudo o que procuravam”, conta Vicky.
As peças contam com um modelo versátil, bolsos removíveis, podem ser usadas do avesso, se complementarem, e isso veio da ideia da Vicky de gostar de roupas muito coloridas e chamativas, mas sentir que todas suas peças ficariam “marcadas”. E se ela pudesse trocar os bolsos? Usar do avesso? Transformar em um short? Assim veio a criação das peças da coleção The Way, onde você tem essa flexibilidade de mudar as peças do jeito que preferir e de utilizar várias vezes e de diversas formas.
