
De São Gonçalo para o mundo: Os Garotin e a força de ser de onde é
Mais do que cantores talentosos, o trio tem um papel importante no debate sobre identidade para muitos jovens
nchieta, Cupertino e Leo Guima, ou Os Garotin, vêm ganhando cada vez mais destaque no cenário musical brasileiro. Suas músicas envolventes falam sobre paixão, amor, luta por igualdade e pertencimento. No Blog da Galera de hoje, venho apresentar esse trio e mostrar a importância que eles têm no debate sobre a identidade – quem sabe eles não viram seu novo artista favorito.
Crias da cidade de São Gonçalo no Rio de Janeiro (tal como a escritora desse texto), eles vem trazendo um frescor – mas com referências à produções do passado – para o R&B e Soul brasileiro. Inspirados por artistas irreverentes da música negra como Tim Maia, Cartola e Jorge Ben Jor, esses meninos mostram para o Brasil a potência artística escondida na cidade metropolitana do Rio.
E como bons artistas, não só são inspirados, como inspiram outras pessoas, principalmente aquelas de seu município natal.
Falando como uma jovem de São Gonçalo que conheceu “Os Garotin” por conta de um projeto da escola, posso afirmar que, para mim e para outros a minha volta, eles trouxeram orgulho. Estamos acostumados, infelizmente, a negligenciar a arte em nossa cidade – mesmo ela tendo o título de “cidade berço de talentos” – e a ver famosos esconderem que cresceram aqui.
Imagina como nos sentimos representados quando um grupo que veio daqui e que decidiu colocar o nome da cidade no álbum de estreia, além de fazer referências a ela ao longo do disco, ganha um Grammy Latino? Era como se precisássemos nos ver reconhecidos de alguma forma e nisso afirmar que ainda existimos e que ainda tem arte em um lugar com muitos problemas. Não só isso, mas termos a chance de sonhar que podemos ter um futuro bom, mesmo vindo de um local que é menosprezado.
Conforme eu fui me tornando fã deles, eu passei a prestar muito mais atenção na minha cidade. Por mais que o foco da música deles não seja falar especificamente de São Gonçalo, saber que eles são daqui me faz imaginar as experiências que eles passaram crescendo nessa cidade, que hoje transformam em música, e dar mais atenção a ela. Quando eles afirmam que são de onde são, tal qual artistas como Claudinho e Buchecha, Seu Jorge, Azzy, Cauê Campos e muitos outros (famosos nacionalmente ou não), eles trazem um reconhecimento maior para esse local esquecido e para as pessoas de cá.
Como uma jovem que nunca morou em outro lugar, eu fico decepcionada quando vejo artistas que desdenham do seu lugar de origem, principalmente se esse lugar de origem é a minha cidade. Que tipo de exemplo essa pessoa está passando? Que as suas raízes e de onde você veio não importa? Que onde você nasceu e cresceu não te formaram e moldaram como você é hoje? É como se essas pessoas negassem toda a sua história por vergonha da cidade natal ou até para agradar um outro indivíduo. E o pior, renegando de onde é, você reafirma que aquele lugar não é importante.
Eu, como jovem, entendo que a identidade me molda, que é importante entender todos os aspectos dela para me entender. Quando isso é forjado, você acredita nela e o seu eu verdadeiro some. Aceitar de onde vem é o primeiro passo para entender o que você quer e o que aceita.
Os Garotin (e todos os artistas de SG que eu conheço) estão me ensinando a importância do lugar que venho e da minha identidade. Meu único pedido, como fã e moradora de São Gonçalo, a eles é que eles nunca esqueçam de onde vieram e honrem esse fato.
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