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Vítima de maníaco da seringa dá relato para a CH: ‘Violada’

'Comecei a chorar ali, no meio da plataforma, e liguei para a minha mãe.'

Por Da Redação Atualizado em 16 set 2016, 19h56 - Publicado em 16 set 2016, 19h00

Parece até lenda urbana, mas não é. Sami Fernandes, de 22 anos, mora em São Paulo e foi atacada pelo maníaco da seringa no metrô, na última quarta-feira, 14, enquanto ia para a faculdade. Ela entrou para a trágica estatística que, mais uma vez, é mais assustadora para nós, mulheres, vítimas dos “maníacos”. Era mais um dia considerado normal na vida da estudante, que não imaginava que sua vida mudaria tanto de uma hora para outra, de uma forma tão inacreditável. Em depoimento exclusivo para a CAPRICHO, Sami conta detalhes desde o momento em que sentiu ser picada até como está a sua rotina hoje, dois dias após o crime.

Ataque de maníaco da seringa em SP“Você é a nona que aparece hoje”, diz recepcionista de hospital em São Paulo
para vítima de ataque. (Foto: Reprodução/Facebook)

“Eu estava indo para a faculdade, como em qualquer outro dia útil. O relógio marcava 16h40. Estava de pé no corredor do vagão, quando todo mundo começou a sair. Sabe como é a estação Sé (Linha Azul), né? Foi aquele tumulto, aquele empurra-empurra, aquele corre-corre diário. No meio dessa confusão, senti espetarem minha cintura do lado esquerdo. Na hora, o susto fez eu contair o músculo. Senti uma dor muito forte e percebi que não era só mais um simples esbarrão. Era diferente. Comecei a olhar em volta, procurar alguém que estivesse me olhando ou tendo alguma atitude suspeita. Olhei para as mãos das pessoas. Nada. Ela foi muito rápida, tanto para me agulhar quanto para se esconder. Desci na Liberdade, a estação seguinte, porque, na minha lógica, a pessoa não me seguiria se eu deixasse o vagão. Comecei a olhar a região que estava dolorida e vi o furo da agulha, rodeado por um pouquinho de sangue. A pessoa, com certeza, já estava me observando. Imagino que ela não escolha sua vítima assim em cima da hora. Eu estava muito assustada e só pensava em correr para o hospital. Comecei a chorar ali, no meio da plataforma, e liguei para a minha mãe. Eu estava tão nervosa que acabei não conseguindo falar coisa com coisa e ela acabou não entendo direito o que estava acontecendo. Ela só pediu para eu voltar para casa e, aos poucos, fui me acalmando e explicando as coisas para minha mãe. Ela ficou bem nervosa, mas tentou me acalmar a todo custo, dizendo que tudo ia ficar bem. Mas percebi que ela ficou com bastante medo. Cheguei em casa e fomos para o Emílio Ribas, um hospital renomado quando o assunto é infectologia. Chegando lá, contei para a recepcionista que havia sido atacada pelo maníaco da seringa. Ela olhou para mim, como se eu estivesse falando a coisa mais natural do mundo, e disse: ‘Você é a nona que aparece hoje’.

Ataque de maníaco da seringa em SPMais recentes retratos falados dos suspeitos que atacam mulheres no metrô
usando seringas contaminadas. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

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Fui encaminhada para o médico, que me perguntou em qual estação havia sido, o horário, se eu tinha visto quem me furara… Infelizmente, não consegui ver. A pessoa foi mais rápida. O doutor foi muito atencioso e me prescreveu o tratamento. Ele abriu uma gaveta e tirou três papéis de lá. Colocou meu nome neles e me explicou como tudo ia ser. Estou tomando três remédios por dia, para prevenir que eu contraia o vírus HIV ou da Hepatite. Contudo, só vou saber se fui ou não infectada depois de, no mínimo, um mês. O vírus HIV, por exemplo, só se manifesta no organismo entre 28 e 90 dias. Estou tomando alguns calmantes também e minha família e amigos estão toda a hora me perguntando como estou me sentindo, se preciso conversar. O apoio que tenho recebido na internet também tem me ajudado bastante. Eu não usei mais o metrô depois do que aconteceu. Consegui uma dispensa na faculdade e só retorno na próxima segunda-feira. Estou com medo. Nesta sexta-feira, 16, eu comecei a ter os piores efeitos colaterais. Sinto muita dor de cabeça, enjoo, moleza, náusea excessiva. O que eu como coloco para fora. O médico já havia me dito que eu ia sentir esses sintomas e que não era para eu me assustar, porque os medicamentos são muito fortes mesmo. Agora, de 10 em 10 dias, começo a fazer exames para de acompanhamento. Fui informada de que a chance de eu contrair o vírus HIV ou da Hepatite é de 0,023%. Mas tenho medo. No dia em que fui atacada, usava um moletom e uma calça de cintura média. Sou muito friorenta e sempre vou de calça para a faculdade. O metrô também é sempre gelado. Coloquei meu moletom assim que entrei na estação Tucuruvi. Não estava com nenhuma parte do corpo exposta, como muitos imaginam. Tenho 22 anos e curso Arquitetura e Urbanismo na Faculdade Belas Artes. Me senti violada e humilhada. Caso isso aconteça com você, por favor, faça o boletim de ocorrência. Só assim vamos conseguir a acabar com esse tormento.”

CAPRICHO ALERTA: antes, estava sendo divulgado que os ataques em São Paulo estavam acontecendo apenas fora dos vagões, em estações como Paraíso (Linha Azul/Verde) e Tamanduateí (Linha Verde) do metrô. Porém, relatos como o da Sami deixam claro que o crime está ocorrendo também dentro dos vagões e em outras estações. Não deveríamos ter que pedir algo como isso, mas, meninas, tomem cuidado. É um saco pensar que precisamos nos preocupar com a loucura dos outros, mas redobrem a atenção. Estamos todas jutas!

 

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