Continua após publicidade

Síndrome do pânico: “Não queria mais ir ao cursinho, nem ver meus amigos”

Conheça a história da Gabi Peres, de 19 anos, que conta sobre as crises ansiosas e como é o tratamento.

Por Marcela Bonafé Atualizado em 17 ago 2016, 19h27 - Publicado em 12 Maio 2016, 18h30
No último mês, Lucas Lucco foi ao Snapchat falar sobre com enfrenta a depressão e a síndrome do pânico. “Foi um momento muito difícil para mim, meus pais e minha família”, contou o cantor em seu perfil. Ontem ele voltou a tocar no assunto durante o Encontro com Fátima Bernardes. A leitora Gabriela Peres, de 19 anos, também enfrentou a síndrome do pânico e abriu o coração para a CAPRICHO. Vem conhecer a história dela!
 
Enquanto voltava para casa depois de um vestibular, aos 17 anos, a Gabi teve a primeira crise. “Lembro de sentir meu rosto pingando. Minha cabeça estava muito acelerada e eu andava sem saber onde estava – mesmo conhecendo muito bem o lugar”, conta sobre ter se perdido no caminho para o metrô. Uma hora depois, ela conseguiu ligar para o pai, que foi buscá-la. “Nada mais existia além da minha angústia, que me consumia. Não conseguia pensar em outras coisas, por mais que tentasse. Neste dia, deitei na cama e comecei a chorar“, conta.
 
 
Mas, afinal, o que estava acontecendo? Foi o começo de um transtorno conhecido como síndrome do pânico, que se manifesta exatamente como aconteceu com a Gabi: em crises ou ataques repentinos de ansiedade. A tendência é que isso comece a ocorrer com certa frequência. “Em muitos casos, até se desenvolve a agorafobia. Ou seja, a pessoa evita ir a lugares onde acha que pode ter uma crise ou se constranger“, explica Alexandre Valença, professor associado do departamento de psiquiatria e saúde mental da Universidade Federal Fluminense.
 
O motivo que pode desencadear essas crises ainda gira em torno de hipóteses, mas fatores genéticos podem estar envolvidos: a síndrome do pânico é mais comum em familiares de primeiro grau. Valença também aponta que outra possibilidade é que ela esteja ligada à falta do hormônio serotonina, que é produzido pelo cérebro. Já o psicanalista Eduardo Fraga explica que o transtorno de ansiedade “é a forma mais primitiva das pessoas conseguirem comunicar, através do corpo, que alguma coisa não está bem com elas psicologicamente“. Reagir à pressão e exigência do dia-a-dia, por exemplo, é um motivo comum entre adolescentes.
 
E como são as crises? 
Gabi foi ter outra crise só dois anos depois – esse espaçamento pode acontecer mesmo por causa das situações de ansiedade que as disparam. “Comecei com uma sensação de queda, tipo a dos sonhos, sabe? E muito medo. Eu também tinha muita falta de ar e a sensação de que minha garganta ia acabar fechando“, ela lembra. Os sintomas podem variar de acordo com a pessoa, mas o psicanalista Eduardo Fraga destaca que a síndrome se expressa principalmente pelo corpo, e as reações mais comuns são “taquicardia, sudorese, angústia e, muitas vezes, sentimento de estar sufocando”.
 
No ápice das crises, a Gabi chegou a alucinar e conta que teve até que cobrir todos os espelhos de casa: “Eu imaginava as pessoas me encarando com rostos deformados e não reconhecia o reflexo no espelho como meu. Não era a imagem que eu tinha de mim mesma. Sentia muito medo do meu reflexo, como se ele pudesse sair de lá e me atacar”.
 
A mãe da Gabi foi muito importante durante os períodos de crises
A ajuda
“Chegou um momento em que tinha tanto medo que aquilo estava me atrapalhando a fazer qualquer coisa na vida. Não queria mais ir ao cursinho porque tinha vergonha das pessoas; não queria sair e ver meus amigos; eu não estava convivendo bem com os meus pais em casa“, ela lembra. “Eu não comemorei meu aniversário de 19 anos, não fui ao aniversário da minha melhor amiga, perdi muitas aulas, deixei de ficar com meu pai no dia dos pais”, completa.
 
Um dia, ao voltar da terapia, a Gabi se perdeu de novo e quando finalmente chegou em casa, resolveu tomar banho de roupa. “Na minha cabeça, aquele era o jeito certo”. Depois desse episódio, ela decidiu que era hora de buscar ajuda. O professor Alexandre Valença ressalta que procurar um profissional é realmente importante: “Um médico vai analisar e vai fazer uma entrevista psiquiátrica para saber as características e, assim, indicar o tratamento”.
 
Vai passar, tá? É uma promessa!
Gabi já fazia terapia por motivos pessoais, então a psicóloga dela sugeriu que ela buscasse um psiquiatra. “Fiquei com medo no início, pensava que era a porta de entrada para o hospício. Mas foi incrível. Ele me acolheu superbem e, junto com minha psicóloga, foi me mostrando que eu não estava enlouquecendo. Ele sugeriu que eu tomasse um antidepressivo todos os dias e tivesse um antipsicótico na bolsa para tomar em casos de crise. Eu topei. Naquele momento, precisava muito de ajuda”, ela conta.
 
A Gabi guarda com muito carinho o pingente de âncora que ganhou da amiga durante a fase mais complicada: “Foi um presente para me lembrar que ela vai estar sempre aqui para me segurar, com os pés no chão”

Além do tratamento com medicamentos e psicoterapia, a Gabi lembra de um detalhe que marcou muito: “A psicóloga me pediu para ler As Vantagens de Ser Invisível. Aquilo foi incrível. Eu li e parecia que tinham escrito o livro para mim, para eu ver que existia alguém em algum lugar do mundo que passou por isso e ficou bem”.

Você não tem que enfrentar isso sozinha. 
“Quando a gente passa por esse tipo de problema, se sente abandonada. Nem todo mundo entende o que está acontecendo“, ela explica. Por isso, a Gabi destaca que o apoio das pessoas próximas durante o tratamento faz muita diferença. “Uma amiga vinha estudar em casa comigo todos os dias e isso ajudava a me distrair. Tinha também amiga que bastava eu dizer que não estava bem que ela vinha me trazer chocolate e abraços. Me sentia amada e com um motivo para seguir em frente“, conta.
 
A mãe dela, no começo, não sabia muito como lidar. “Afinal, mãe nenhuma quer acreditar e aceitar que um filho está tendo problemas que envolvem o psicológico. Como eu chegava até a alucinar às vezes, isso a assustava“, ela destaca. “Mas com a ajuda da terapeuta, com o tempo e com paciência, aos poucos ela foi entendendo tudo e sabendo me ajudar. Ela me acalmava e lembrava que aquilo que eu estava sentindo só estava acontecendo no meu mundo interno. Foi fundamental”, completa.
 
“Para falar a verdade, depois de tudo isso eu me sinto mais resolvida comigo mesma. Me amo mais que antes”
A experiência da Gabi
Ela explica o motivo que a leva a compartilhar o que passou: “Eu não conhecia ninguém que já tivesse passado pela mesma coisa. Talvez tivesse sido mais fácil. Eu estava jogada e me sentia sozinha, e não quero que quem passa por isso também se sinta assim“. “A mente humana é um imenso labirinto em que nem sempre a gente conhece todos os corredores – e alguns são mais escuros do que os outros. Mas passar por eles não significa que ali será o fim. Procurar ajuda não é vergonha para ninguém. Na verdade, quem enfrenta isso tem que se orgulhar por se fortalecer“, a Gabi completa.
 
Hoje, ela admite que ainda tem medo das crises, sim. Mas saber que tem o apoio de pessoas queridas, de um médico e de um remédio que pode ajudá-la em caso de crise faz com que ela siga em frente normalmente.