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Programa de futebol constrange musa com perguntas sexistas

Karol Barbosa, Musa do Goiás, ficou extremamente desconfortável com perguntas de duplo sentido realizadas no programa.

Por Amanda Oliveira 24 fev 2018, 11h32

É praticamente impossível encontrar alguma mulher que não tenha vivido um episódio de assédio ou desrespeito, seja em forma de agressões verbais mais diretas ou as famosas piadinhas sem noção. Nesta semana, um programa de televisão revoltou a população ao reproduzir, naturalmente e em rede nacional, o que milhares de mulheres ainda são obrigadas a ouvir diariamente. Exibido na TV Goiânia, afiliada da Band, o programa Os Donos da Bola convidou Karol Barbosa, musa do time do Goiás, para participar de um quadro chamado de “Desafio das Musas”.

No entanto, as perguntas feitas pelo apresentador Beto Brasil eram todas extremamente machistas, com duplo sentido e conotação sexual, tratando a moça como objeto.

Uma das perguntas inapropriadas que Karol Barbosa teve que ouvir TV Goiânia/Reprodução

Karol ficou visivelmente desconfortável com a situação. “Se o seu nutricionista mandar você chupar uma laranja, porque faz muito bem para a saúde, você chuparia um saco por dia?” e “para uma musa não sofrer dores localizadas, é importante o médico colocar compressa?” foram algumas das perguntas feitas no quadro. A musa até deu alguns risos nervosos ao tentar fugir da conotação sexual das perguntas, mas, na maioria das vezes, ficou em silêncio sem saber o que dizer. Karol também chegou a reclamar de uma pergunta, dizendo que “a frase não havia ficado muito boa”.

Essa não foi a primeira vez que o programa constrangeu uma musa de um time de futebol. Karolina Rodrigues, do Vila Nova, também passou pelo mesmo constrangimento ao ter que responder questões como: “se quem não tem perna é perneta, quem não tem punho é o quê?”. Com a repercussão do caso, os dois times se uniram para publicar notas de repúdio e exigir uma retratação do canal. A resposta? Nós já conhecemos muito bem.

Assim como na crônica publicada Guilherme Goulart, no Correio Braziliense, em 2017, que citava detalhes da aparência de uma estagiária, o argumento de defesa do programa de televisão foi que era tudo planejado para alertar a população sobre o machismo.

Os apresentadores entraram ao vivo para pedir desculpas e dizer que não conheciam o teor do quadro. Quem admitiu ter feito a escolha das perguntas foi o coordenador artístico e responsável pelo programa, Leandro Vieira, que declarou estar aliviado pelo choque das pessoas e ainda fez um discurso rápido sobre como é importante respeitar as mulheres. A desculpa não convenceu ninguém, é claro. Constranger mulheres intencionalmente em rede nacional nunca será algo feito com boas intenções.

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Ainda assim, a repercussão negativa se manteve forte e a TV Goiânia anunciou o fim do quadro em uma nota publicada no Facebook. “Pedimos desculpas por constrangimentos causados e como prova de que não compactuamos de forma alguma com o conteúdo veiculado, nem qualquer tipo de discriminação, a emissora decide desde já pela retirada do programa do ar”, dizia um trecho do comunicado.

Além de todo o preconceito vivido nas ruas, nos escritórios e no ambiente acadêmico, toda mulher que gosta de futebol sabe como é difícil entrar em um universo comandado, em maioria, pelo público masculino. Embora esta seja uma cena lamentável para a televisão brasileira, esperamos que sirva de exemplo para que o assédio chegue cada vez mais perto de ter um fim. Que as mulheres não se calem diante deste tipo de situação e que os homens indignados também se revoltem com os casos do dia a dia, até mesmo quando o dono das piadinhas mal intencionadas seja um amigo!

 

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