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‘O ônibus para em frente ao meu prédio, mas minha mãe me espera no ponto, porque tem medo’

Por Da Redação 31 Maio 2016, 15h31

Eu tenho apenas 14 anos de idade. Não uso roupas decotadas nem muito curtas. Não bebo, não uso drogas e não fico na rua até tarde. Quase sempre volto da escola de ônibus e já perdi as contas de quantas vezes ouvi minha mãe falar: “Vai de calça. Não senta ao lado de nenhum homem. Cuidado para não deixar nenhum homem chegar muito perto de você se o ônibus estiver cheio”. O ônibus pare quase em frente ao meu prédio, mas todos os dias minha mãe me espera no ponto, porque nós, mulheres, temos medo. Nós, mulheres, não queríamos e nem deveríamos, mas vivemos com medo, desconfiando de tudo e todos. Eu tenho medo. Minha mãe tem medo. Porque eu, com apenas 14 anos de idade, já cansei de ouvir assobios na rua e piadinhas de homens muito mais velhos do que eu, que me olhavam de um jeito que me fazia sentir nojo.

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Quantas vezes, em determinada situação, eu fiz uma oração pedindo para Deus me proteger? Quantas mensagens e telefonemas preocupados da minha mãe já recebi – e ainda vou receber – pelo simples fato de eu estar na rua? E até quando eu vou sentir medo de ser violentada? Até quando eu precisarei me preocupar com a roupa que vou usar para não despertar desejos em homens que não sabem o significado da palavra respeito? Até quando vou ouvir histórias de meninas como a Beatriz, que é só dois anos mais velha do que eu e foi violentada por 30 monstros que se dizem seres humanos? A adolescente vive em uma realidade completamente diferente da minha, e tenho total consciência disso. Ela tinha atitudes diferentes das que tenho. Ela bebia, ficava na rua até tarde e usava roupas curtas. Mas ela fazia tudo isso porque queria. Ela não estava pedindo. E eu, por ser totalmente diferente dela, podia julgá-la. Mas não. Porque crime é crime. Medo é medo. Todas nós estamos suscetíveis.

A CULPA não foi da vítima, a CULPA não é minha e a CULPA não é sua. ESTUPRO é CRIME e precisa ser combatido. Precisamos falar sobre isso. Precisamos viver sem medo, meninas.

Não podemos nos calar diante desse absurdo.

Ana Lia, do blog Poderosa de Rosa

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