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O aplicativo Sarahah não é ruim – as pessoas é que são!

É bastante preocupante culparmos mais uma vez um aplicativo, e não os culpados por praticarem bullying e serem maldosos uns com os outros.

Por Isabella Otto Atualizado em 4 ago 2017, 17h03 - Publicado em 4 ago 2017, 17h03

Acho engraçado quando vejo alguém falando que não entende o porquê de esses aplicativos de mensagens anônimas continuarem fazendo sucesso. É simples. Quando estava no ensino fundamental, uma das coisas de que mais gostava era receber o caderninho de enquete na minha mesa. Ele tinha uma pergunta em cada página e você, além de dar a sua resposta no “anonimato” (porque todo mundo sabia como era sua letra), era possível ver as respostas dos outros e, eventualmente, perceber que tinha sido citada em alguma. O tempo passou e o papel foi substituído pelos perfis fakes nas redes sociais, pelo Ask FM, pelo Secret e pelo Sarahah. Nós gostamos de saber o que os outros pensam da gente. Não tem segredo.

Mas é aquele negócio, né? As coisas vão se tornando populares e o sonho acaba virando pesadelo. A galerinha mal-intencionada chega e começa a distorcer a ideia inicial do projeto. Ao pé da letra, a palavra árabe “sarahah” significa “franqueza”. Logo, a proposta do aplicativo criado por Zain al-Abidin Tawfiq é que você deixe uma mensagem sincera sobre a pessoa. E o aplicativo destaca que ela precisa ser “construtiva”. Ou seja, o app não deve ser usado para espalhar o ódio, ofender e/ou oprimir.

Reprodução/Reprodução

Alguns especialistas, contudo, já estão alertando sobre os perigos do aplicativo, que está sendo usado como uma nova ferramenta de cyberbullying. Como a maioria dos usuários é adolescente, as preocupações redobram de tamanho, vide casos recentes envolvendo a jogo virtual Blue Whale. O medo é que o app funcione como uma espécie da gatilho para pessoas que já são vítimas de bullying na vida real e sofrem de depressão.

A minha experiência com o Sarahah foi bastante positiva. Percebi que ele é um aplicativo de curta duração, principalmente se você usa a versão para computador e não o aplicativo. Como é preciso compartilhar a URL da sua página de recados nas redes, se você abandona a divulgação, logo as mensagens param de chegar. Não recebi nenhum comentário ofensivo e de ódio, e não acho que a razão para isso ter acontecido seja eu. Talvez meu círculo de amizades seja só muito legal, tolerante e humano. “Só”.

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Quando somos adolescentes, temos a tendência de minimizar problemas sérios como o bullying. “É apenas uma brincadeirinha”, dizem os que praticam. Aí, realmente o aplicativo pode virar uma bola de neve. Entretanto, vale relembrar que a proposta do Sarahah não é usar o anonimato para destilar ódio gratuito (ou não gratuito) por aí. É tão legal você abrir a sua caixa de mensagens e se deparar com recados como esses abaixo que recebi. Meu coração ficou tão quentinho! Você se sente amada e satisfeita por saber que mudou a vida de alguém de alguma forma.

Reprodução/Reprodução

Vale alertar que a partir do momento que você se registra no app, está sujeita a receber qualquer tipo de conteúdo. Uns podem não te agradar e outros podem, sim, ser bastante agressivos. Porém, mais uma vez, como muitas coisas na vida, a culpa não é da criatura, mas do criador: o ser humano. Para mim, é bastante preocupante culparmos mais uma vez um aplicativo. É como se tirássemos todo o peso das costas de pessoas que são culpadas por praticarem bullying e serem escrotas umas com as outras.

O Sarahah é legal. Algumas pessoas, não.

 

 

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