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Incêndio no Museu Nacional: dos sinais de descaso às perdas irreparáveis

Na semana do dia 7 de setembro, tragédia talvez sirva de metáfora para retratar a forma como lidamos com a educação e as ciências no Brasil.

Por Amanda Oliveira 3 set 2018, 13h04

Na noite do último domingo, 2, um incêndio consumiu o Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, por mais de 4 horas. Fundado por Dom João em 1818, o museu já chegou a ser a residência oficial da família real e imperial brasileira e havia acabado de completar 200 anos no início de agosto. A instituição também foi o prédio onde a Independência da República foi assinada – e só pra lembrar que estamos na semana do 7 de setembro, viu?

O acervo tinha cerca de 20 milhões de itens e arquivos de séculos de história. A maior parte foi destruída pelo fogo.

Funcionários tentaram salvar parte do acervo do museu. Fernando Sousa/ADUFRJ/Reprodução

Embora docentes, funcionários e bombeiros tenham conseguido retirar uma pequena parte do acervo e dos materiais de pesquisa antes que o incêndio se alastrasse, a maior parte das obras virou cinzas. Entre múmias, fósseis e registros históricos, a CAPRICHO listou as principais perdas da tragédia:

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1. Luzia, o primeiro fóssil brasileiro
Uma das perdas mais tristes da tragédia também era uma das principais atrações do museu. O fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, batizado de Luzia, foi descoberto em Minas Gerais pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire, em 1974. Especialistas indicam que o fóssil teria 11.300 anos.

2. Caixão de Sha-Amun-En-Su
O Museu Nacional também guardava a maior coleção de arqueologia egípcia da América Latina, com mais de 700 obras, entre múmias e sarcófagos. Uma das principais atrações era o caixão de Sha-Amun-En-Su, um presente que Dom Pedro II recebeu ao visitar o Egito, em 1876.

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3. Sala dos dinossauros
Entre os ossos do acervo estava o Maxakalisaurus topai, primeiro dinossauro de grande porte do Brasil, encontrado em Minas Gerais. A ossada havia sido desmontado e guardada em 2017 após um ataque de cupins, mas o espaço foi reaberto em julho deste ano, um mês antes do incêndio, após uma “vaquinha coletiva” na internet.

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4. Trono do reino de Daomé
O acervo também contava com o trono do rei africano Adandozan, do reino de Daomé (ou Dahomei). Os embaixadores do rei deram o trono de presente ao príncipe Dom João VI, em 1811.

5. Múmia pré-histórica
Encontrada no Deserto do Atacama, norte do Chile, a múmia era de 3.400 a 4.700 anos atrás. A posição do corpo era como as pessoas costumavam dormir no frio deserto, com a cabeça apoiada nos joelhos para se aquecer, além de também ser a posição em que os mortos eram enterrados, envolvidos em roupas e cobertas.

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Museu Nacional/Reprodução

6. Meteorito Bendegó
Encontrada em Monte Santo, na Bahia, em 1794, a peça pesava 5.260kg e estava no museu desde 1888. Por ser um objeto metálico capaz de resistir a altas temperaturas, o meteorito foi praticamente o único item que sobreviveu ao incêndio no Museu Nacional.

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OS SINAIS DO DESCASO

Em entrevista à BBC, o coronel Roberto Bobadey, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, disse que o prédio não tinha alvará dos bombeiros para funcionar. Segundo ele, os membros da corporação também tiveram dificuldades para encontrar hidrantes com água na região, o que pode ter contribuído para o incêndio se alastrar mais. A equipe precisou retirar água do lago na Quinta da Boa Vista para ajudar a controlar o incêndio, um atraso que levou cerca de 40 minutos.

O Museu Nacional também sofria falta de manutenção há anos. De acordo com uma reportagem da Folha, de maio deste ano, a instituição sofreu cortes no orçamento e não recebia integralmente a verba de R$ 520 mil por ano para manutenção desde 2014. A reabertura de uma atração na sala dos dinossauros só foi possível porque o dinheiro arrecadado pela população veio através de um financiamento coletivo online.

Na cerimônia de 200 anos do Museu Nacional, nenhuma autoridade apareceu para visitar a instituição. Segundo o site da instituição, o último registro de um presidente em uma visita oficial ao museu foi de Juscelino Kubitschek, em 6 de junho de 1958.

Apenas quatro vigilantes estavam no local na hora do incêndio e conseguiram sair sem ferimentos. A causa do fogo ainda não foi descoberta. Além de representar uma perda tristemente irreparável para a cultura e história do Brasil, a tragédia também mostra o descaso e abandono que muitas instituições históricas, científicas e culturais brasileiras ainda sofrem.

Memorial da América Latina, Museu da Língua Portuguesa, Cinemateca Brasileira, Museu Nacional… Foram tantas perdas para a história do Brasil nos últimos anos! 

A perda mais dolorida e irreparável é mesmo a da memória e da educação…

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