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Homens são absolvidos de estupro após tribunal achar vítima ‘feia demais’

Entre as razões para retirar as acusações, as juízas (sim, mulheres!) consideraram que a vítima era 'masculina e feia demais' para ter sido violentada.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 17 mar 2019, 13h30 - Publicado em 16 mar 2019, 10h05

Nesta semana, centenas de pessoas foram às ruas de Ancona, na Itália, para protestar sobre um caso que gerou revolta na população, especialmente entre as mulheres. Dois homens acusados de estupro foram absolvidos na Justiça após o tribunal considerar que a vítima era “feia e masculina demais” para ter sido violentada por eles. Sim, isso realmente aconteceu.

Getty Images/Reprodução

O caso aconteceu em 2015, na Itália, mas apenas em 2016 ocorreu o julgamento da primeira instância, no qual os dois homens de 22 anos foram considerados culpados pelo crime. A história, contudo, virou de ponta-cabeça no julgamento da segunda instância, em 2017. Os acusados disseram que a mulher não era atraente para nenhum dos dois e que até haviam salvado o número de contato dela como “Viking”, por ela ter uma aparência “masculina demais”. Falaram, ainda, que uma fotografia da moça provaria o que eles estavam dizendo.

Não é surpresa que alguém acusado de um crime fale qualquer besteira para tentar se defender e se livrar da sentença. A surpresa, na verdade, é que as três juízas presentes no tribunal deram razão ao que nem deveria ser considerado um argumento. Pior ainda é essa atitude vir de mulheres. “Li esta sentença em 2017 e é por isso que a enviamos para a Suprema Corte. Foi nojento, as juízas expressaram vários motivos para decidir remover as acusações, mas uma delas era porque [os acusados] disseram que eles nem mesmo gostavam dela, porque ela era feia“, a advogada da vítima, Cinzia Molinaro, disse em entrevista ao The Guardian.

Além disso, a advogada reforçou que os acusados colocaram drogas na bebida da mulher em um bar, onde estavam em um grupo após as aulas. Foi comprovado por médicos que o sangue da vítima continha um alto nível de benzodiazepínicos, que são substâncias sedativas. Exames de corpo de delito também atestaram que as lesões no corpo da moça indicavam violência sexual. Ou seja, como todas essas evidências do crime foram derrubadas por um “argumento” com base na aparência da vítima?

Embora tudo isso tenha acontecido entre 2016 e 2017, só agora o motivo para esse veredito ter sido tomado foi divulgado, após a Corte de Apelações solicitar um novo julgamento para o caso. Ao The Guardian, a porta-voz do grupo feminista que organizou os protestos, Luiza Rizzitelli, disse que a decisão jurídica foi, no mínimo, medieval. “A pior coisa é a mensagem cultural que veio de três juízas que inocentaram estes dois homens porque decidiram ser improvável que eles quisessem estuprar alguém que parecesse ‘masculino’“, disse.

“Medieval” é uma palavra muito simples para definir o que essa decisão, que partiu de mulheres, representa. Como a gente vai conseguir mudar a atitude dos homens quando tantas mulheres ainda pensam da mesma forma? 

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