Continua após publicidade

Damares Alves surpreende em entrevista e é elogiada até pela oposição

A ministra dos Direitos Humanos e da Mulher falou sobre feminismo, abusos contra a mulher, criticou a cura gay e até elogiou as "pautas da esquerda".

Por Isabella Otto Atualizado em 18 dez 2019, 15h04 - Publicado em 18 dez 2019, 14h53

Se durante todo 2019 Damares Alves, atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro, se envolveu em polêmicas, ela termina o ano surpreendentemente bem, tudo por conta de uma entrevista concedida à BBC News Brasil em Roma, na Itália, e publicada nesta quarta-feira, 18. “Nossa, que diferença daquela outra Damares que dizia que meninas usam rosa e meninos, azul”, andam dizendo alguns internautas, surpresos com as aspas dadas pela ministra. 

Reprodução/Reprodução

Damares iniciou seu discurso dizendo que, hoje, não pensa em se candidatar a cargos políticos pois acha a urna muito cruel. “Eu quero morrer feliz, pensando que as pessoas gostam de mim”, brincou. Aliás, em diversos momentos Damares mostrou bom humor e até mesmo se autointitulou uma “ministra polêmica”, referindo-se às tantas vezes que seu nome saiu na mídia, na maioria delas, ligado a alguma fala ou causa que não agradava àqueles que não seguem o Evangelho ou que fosse considerada machista.

Por razões como as citadas acima, foi um tanto quanto estranho ver a ministra defender o feminismo e as causas feministas com tanto fervor quanto defendeu na entrevista dada à BBC. Damares, em certo momento, chegou inclusive a falar bem da esquerda brasileira, dizendo que ela “tem um discurso bom”. Não demorou muito, contudo, para ela de reposicionar: “a esquerda não é pai e mãe dos direitos humanos.(…) Não é que as minhas pautas são iguais [às da esquerda], é que por algum tempo a esquerda se pregou dona dos direitos humanos”, disse.

É interessante ver também Damares, que é pastora, dizer coisas como “o nosso corpo foi feito para o prazer” e “a cura gay é outra coisa. Inclusive, um termo pejorativo”. Por muitos momentos ao longo do ano, a impressão que ela passou foi justamente a contrária e, na entrevista, ela defendeu-se dizendo que vivem tirando as falas dela de contexto. Por exemplo, que é errôneo relacioná-la ao processo de cura gay como muitos fazem. “Eu defendo o direito à expressão. Se alguém disser que vivenciou a homossexualidade e hoje não vivencia mais, ela tem o direito de falar isso. Então, por que eu não vou reconhecer uma pessoa que deixou de viver a homossexualidade?”, falou antes de reforçar que a expressão “cura gay” é pejorativa.

Continua após a publicidade

Damares, que fez questão de deixar claro que acredita que os direitos humanos são para todos e que o governo está trazendo povos invisíveis, como os ciganos, à luz, disse que sofre violência contra a mulher pela imprensa. “Acabei de sofrer uma. Nós temos que falar de todos os tipos de violência contra a mulher(…) Se uma parlamentar sobe na tribuna e grita por direitos, é histérica(…) É muito comum uma mulher estar num lugar fazendo um debate e ser interrompida o tempo todo. Isso é uma violência contra a mulher(…) Nós vamos lutar para que todos os municípios tenham, no mínimo, uma mulher em todas as câmaras de São Paulo”. Antes disso, a ministra havia ressaltado que violência contra a mulher não é apenas a física: “tem a psicológica, a patrimonial e a política (que ela diz sofrer)”.

Quando questionada sobre o feminismo, Damares brincou: “tem mulher mais empoderada no Brasil que eu?”. Ela explicou ainda que se considerada uma mulher empoderada porque cresceu no interior do Nordeste, veio de uma família humilde e vocacionada a cuidar dos pobres, e que diariamente luta para superar os traumas dos abusos sexuais sofridos quando criança. “Aos 6 anos, eu passei pelo holocausto”, disse, referindo-se aos anos de abuso que sofreu por pastores. Aos 10 anos, a ministra lembra que quis se matar mas que foi salva por uma conversa com seu “amigo imaginário”, Jesus Cristo – e retoma a história do pé de goiaba que se tornou um viral.

Continua após a publicidade

É fato que Damares Alves se contradiz em diversos momentos e contradiz inclusive falas que ela mesma e o governo defendido por ela já pronunciaram. Não dá para negar isso, assim como não dá para negar o fato de que, em diversas partes da entrevista, ela prega conceitos defendidos pelo Evangelho mesmo estando a frente de um Estado que se diz laico. Entretanto, a ministra traz falas importantes como as que listamos a seguir: “acredito na educação como instrumento arrebatador de inclusão”, “eu não sou ministra porque fui estuprada. Eu sou ministra porque tenho uma luta de defesa da criança. Eu fiz da minha dor, a minha bandeira. Eu fiz da minha dor, a minha luta” e “o estupro não se explica, o abuso não se relativiza”.

Sobre os ataques que já sofreu por ser tida como machista, a representante das mulheres no governo garante que só questiona no feminismo o que chama de “ativismo radical”, porque, segundo ela, é possível dialogar sempre. Ela também continuou se posicionando contra o aborto legal: “pra que que eu vou pra rua pedir só aborto?(…) Eu não vou fazer ativismo contra e pró aborto. Eu vou cuidar de mulheres“, falou.

É… 2019 só acaba quando termina…

Publicidade