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Cyberbullying: uma triste violência da internet

Agressões, xingamentos e humilhação na internet? Muitas pessoas sofrem com esse tipo de bullying on-line. A CAPRICHO conversou com algumas delas e descobriu o que pode ser feito para se defender desse tipo de violência.

Por Da Redação Atualizado em 24 ago 2016, 23h58 - Publicado em 22 jul 2013, 18h57

Ana Carolina Favano, 20, e Leandro Rocha, 21, já estavam juntos há 4 meses quando a vida dos dois tomou um rumo completamente novo: enquanto ele passou a ser reconhecido em todo o País como Gee, o guitarrista da NX_Zero, ela descobriu que namorar celebridades pode ser motivo para ser perseguida e humilhada através da internet.

Acostumada a viver no anonimato, Ka (como gosta de ser chamada), tomou um susto quando percebeu que já não era mais tão anônima assim. Primeiro, vieram os inúmeros perfis fake no Orkut, passando-se por ela. Logo, surgiram os comentários maldosos a seu respeito e as fotos alteradas do Photoshop que distorciam sua imagem.

Em pouco tempo, já existiam dezenas de comunidades criadas apenas lhe agredir, envolvendo inclusive o nome de suas irmãs (uma delas, gêmea de Carol).

Segundo Ana Cláudia Favano, mãe da Ka, a fase foi difícil: “Ela ficou muito chateada. Foi um inferno mesmo. Sofremos muito constrangimento. No início, meu marido e eu ainda respondemos algumas vezes às agressões virtuais, mas em outubro de 2007, a situação ficou insustentável”. 

Foi a partir de então que a família resolveu procurar orientação jurídica e descobriu que aquele era um caso conhecido por cyberbullying, em que usuários se valem do anonimato da internet para maltratar, humilhar e constranger alguém através de email, blogs, MSN, fotologs e sites de relacionamento como Orkut e Myspace.

Mais instruídos ? e com a ajuda de diversas fãs do NX-Zero ?, os pais de Carol entraram em contato com o Google e conseguiram retirar do ar alguns perfis e comunidades difamatórias e descobrir a identidade real de vários envolvidos no cyberbullying. Aos poucos, a situação melhorou e hoje Carol convive bem com o fato de namorar alguém famoso. “Leandro sempre me disse que ia ser difícil. No começo, me sentia muito mal vendo as pessoas usar minhas fotos, invadir minha privacidade. Não conseguia entender todas essas coisas, mas aprendi a lidar com isso de maneira que não impeça nossa felicidade”, disse Carol.

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Ka com o namorado Gee, do NX Zero: “Aprendi a lidar com isso de maneira que não impeça nossa felicidade.”

TRAGÉDIA – Os casos de cyberbullying, no entanto, nem sempre terminam de forma pacífica como aconteceu com a família Favano. Em 2006, o estudante de Educação Física, Thiago Arruda, 19, foi alvo de uma comunidade no Orkut, criada apenas para inventar boatos sobre os moradores da cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Chamado de “homossexual e pedófilo” e agredido nas ruas por pessoas que acreditavam nas acusações, Thiago suportou quase um ano de humilhação até que, em março do ano passado, ele escreveu na internet que caso as agressões não parassem, ele se mataria. A resposta que teve dos membros da comunidade foi um incentivo ao suicídio, em que até mesmo o “melhor método” foi ensinado.

No dia seguinte às mensagens, Thiago foi encontrado morto dentro do seu carro, estacionado na garagem de sua casa. Com uma mangueira no escapamento do automóvel, ele levou o fluxo de monóxido de carbono (gás que, quando inalado em grandes quantidades causa morte por asfixia) e morreu sufocado. Na época, a polícia do Paraná chegou a identificar alguns membros da comunidade, mas ninguém foi preso.

Histórias como esta têm se repetido em várias partes do mundo

Nos Estados Unidos, Megan Méier, de apenas 13 anos, foi mais uma vítima. Durante um mês ela manteve um “namoro virtual” com um jovem de 16 anos chamado Josh Evans, que havia conhecido através do MySpace. O romance terminou quando o rapaz subitamente passou a agredi-la e mandou-lhe uma mensagem dizendo que “o mundo seria melhor se você não existisse”.

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No dia seguinte, jovens que tinham link para o perfil de Josh no MySpace aderiram à briga e passaram a insultar Megan. A adolescente deixou o computador e foi para seu quarto aos prantos. Apenas 15 minutos depois, sua mãe encontrou-a enforcada.

Algumas semanas depois da morte de Megan, os pais dela descobriram que Josh Evans era, na verdade, uma vizinha de 47 anos que morava a quatro casas de distância da família, e havia inventado o perfil junto com sua filha “apenas para zoar”. O caso chocou a população e os vereadores locais aprovaram uma lei para punir os casos de assédio e perseguição na internet.

Como se defender do cyberbullying

No Brasil, ainda não há uma lei específica para punir o cyberbullying. Praticado quase sempre por jovens e adolescentes que se escondem através de identidades falsas, o crime parece ser fácil de permanecer impune. Mas é possível, sim, identificar os autores através de rastreamentos realizados por profissionais capacitados. Para isto, é importante que as vítimas, juntamente com seus responsáveis, procurem as Delegacias Especializadas em Crimes Cibernéticos. Nas cidades em que este serviço não é oferecido, os pais devem se dirigir a uma Delegacia de Polícia ou à Promotoria da Infância e Juventude, e levar páginas ou emails que contenham as ofensas para servir de prova na abertura de um inquérito.

As denúncias de cyberbullying também podem ser feitas através da SaferNet Brasil, uma associação formada por diversos profissionais (cientistas da computação, professores, pesquisadores e advogados), que hoje é considerada como referência no combate aos crimes que violam os direitos humanos através da internet.

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Se você for vítima de cyberbullying, não entre em desespero ou fique acuado. Como disse Carol Favano, “gente que se dedica a atingir os outros dessa forma é porque não tem amigos, família ou vida para se ocupar. É preciso ser superior e, o mais importante, feliz, para a infelicidade dessas pessoas”. E, claro, denuncie os agressores sem medo, pois quem se esconde atrás do anonimato da internet não é tão valente quanto parece.

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