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Alunos de escola pública são vetados de circular em shopping de luxo em SP

Excursão foi prêmio por mérito das crianças nas aulas, mas elas foram proibidas de comer na praça de alimentação pois o local era 'de elite'.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 21 mar 2019, 16h16 - Publicado em 21 mar 2019, 15h28

Alunos e professoras de duas escolas públicas do município de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, pretendiam visitar a Expo Mickey 90 Anos na última segunda-feira, 18, no Shopping JK Iguatemi, localizado na zona sul da capital. O convite foi feito pela Secretaria de Educação do Estado e a excursão planejava o passeio há um mês, mas o grupo teve uma surpresa desagradável ao chegar ao local. De acordo com uma das diretoras das escolas, uma funcionária da exposição proibiu os alunos de circularem no shopping e se alimentarem na praça de alimentação porque o local era ‘de elite e não comportaria tantas crianças’.

Reprodução/Divulgação

A viagem, que foi um prêmio pelo bom desempenho das crianças nas aulas, durou cerca de 5h e contava com 120 alunos, com idades entre 6 e 10 anos. De acordo com a diretora de uma das escolas, Jozeli Gonçalves, o grupo tinha ingressos para visitar a exposição às 14h, mas decidiu chegar duas horas antes para incluir um almoço no passeio. No entanto, uma funcionária de uma empresa terceirizada responsável pela exposição, que se identificou como Beatriz, impediu que os alunos circulassem no shopping, afirmando que o local era de luxo e que não comportaria tantas crianças.

Nós fomos com crianças que nunca tinham ido a um shopping, que só viam fast food pela televisão. Era para ser um dia especial, mas esbarramos no preconceito. A funcionária pediu que fôssemos a uma lanchonete na esquina do shopping e ainda justificou que poderíamos ter problemas com a segurança do espaço porque o shopping era considerado de elite”, a diretora conta, em entrevista ao G1.

As crianças, que vivem em uma área rural, receberam dinheiro para que todos comessem no restaurante Burguer King após uma mobilização dos pais e da comunidade em que moram. Já a viagem de ônibus foi um presente da prefeitura e os ingressos da exposição foram doados pela ONG Orientavida, que participa da organização do evento – e é onde a funcionária Beatriz trabalha. Após quase meia hora tentando resolver a situação, as diretoras acionaram a Secretaria de Educação e conseguiram a liberação da entrada. “Começamos a notar que os alunos maiores tinham percebido que estavam sendo barrados e não queríamos isso“, Jozeli lembra.

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Para a diretora da outra escola, Ana Fagundes, o ocorrido foi um caso de racismo e discriminação social devido ao grande número de crianças negras e de classe baixa no grupo. “É muito triste a gente passar por isso, houve uma discriminação muito grande com os nossos alunos. Houve racismo, sim. Nós saímos daqui com a intenção de passar uma tarde maravilhosa com eles”, diz.

Em nota, a Secretaria da Educação de Guaratinguetá disse que “repudia racismo e qualquer forma de discriminação, e continua acompanhando e apoiando educadores e alunos nas providências que julgarem necessárias”. Já o Shopping JK Iguatemi afirmou que não compactua com a atitude da colaboradora e solicitou à direção da organização responsável pela exposição que reforce o treinamento da equipe de recepcionistas do evento.

Procurada pela CAPRICHO, a ONG Orientavida disse que o ocorrido foi “um fato isolado e pontual” e que não compactua com qualquer ato de discriminação. “A Orientavida reforça que todos são bem-vindos na mostra que ocorre num shopping na cidade de São Paulo e reitera que, a partir do momento que teve conhecimento do caso, tomou as medidas necessárias para que tal situação não mais ocorra”, diz. Segundo o G1, a funcionária envolvida no caso foi desligada.

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