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“Adoção na Passarela”: evento exibe crianças em desfile e causa revolta

Desfile reuniu órfãos de 4 a 17 anos. Na internet, pessoas indignadas compararam a situação com "uma vitrine de loja"

Por Amanda Oliveira Atualizado em 23 Maio 2019, 18h59 - Publicado em 23 Maio 2019, 11h06

Mais de 8,7 mil crianças e adolescentes ainda aguardam uma família no Brasil, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgados em 2018. Alguns desses órfãos, inclusive, participaram do desfile promovido pelo evento “Adoção na Passarela” realizado na última terça-feira, 21, que reuniu crianças e adolescentes de 4 a 17 anos aptos a serem adotados em uma passarela no pátio de um shopping.

Reprodução/Divulgação

A ação aconteceu em um shopping de Cuiabá e foi promovida pela Associação Mato-Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA) em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT). Segundo o material de divulgação, o evento tinha como objetivo “dar visibilidade a essas crianças e esses adolescentes que estão aptos para adoção”. “Será uma noite para os pretendentes – pessoas que estão aptas a adotar – poderem conhecer as crianças, a população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e as crianças em si terão um dia diferenciado em que elas irão se produzir, cabelo, roupa e maquiagem para o desfile(…) Como sempre dizemos: o que os olhos veem, o coração sente“, afirmou a advogada e presidente da Comissão de Infância e Juventude, Tatiana Ramalho.

Diferentemente do que os organizadores do evento esperavam, as pessoas se revoltaram com a situação. “Uma feira de adoção? Uma vitrine? Olha o que gostar e leva pra casa? Eu não sei que nome dar pra isso“, criticou uma internauta na publicação. Houve até quem sugerisse uma outra forma de aproximar crianças de adultos, como ensiná-las a cantar, dançar, fazer algum tipo de arte ou brincadeiras no espaço oferecido pelo shopping. “Eles não são mercadorias, está parecendo comércio“, opinou uma usuária no Facebook.

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A AMPARA e a OAB-MT ainda não se pronunciaram sobre o caso.

Uma das maiores preocupações com esse tipo de evento é a expectativa que as crianças provavelmente criaram com a possibilidade de uma adoção e a decepção que veio logo depois, que pode até causar problemas de autoestima por não ter agradado o suficiente. “Eu tô arrepiado e pensando em todas as crianças que passam por isso e não são adotadas(…) Que exposição cruel”, disse Alysson, no Twitter. “Fico imaginando como estavam com expectativa e como se sentiram depois do desfile? Lidar com abandono não é fácil“, opinou uma outra usuária.

Será que expor crianças em uma passarela é realmente uma forma de conscientização do bem?

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