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A morte de Goo Hara: o machismo segue fazendo vítimas na Coreia do Sul

A atriz e estrela do K-pop foi encontrada sem vida em sua casa no dia 24. Polícia investiga a causa da morte

Por Gustavo Balducci Atualizado em 25 nov 2019, 16h03 - Publicado em 25 nov 2019, 15h54

Em 2007, Goo Hara estrelou ao lado de outras garotas o girlgroup KARA. Com enorme sucesso de vendas e de público, o grupo de k-pop seguiu fazendo apresentações até 2016, quando os últimos contratos expiraram e as integrantes remanescentes, incluindo Hara, decidiram não renovar. A jovem, que também foi atriz, seguiu carreira solo e concentrou seus trabalhos em séries de TV. No último dia 13 ela lançou Midnight Queen, hit embalado em japonês. Poré, no último domingo (24), Goo Hara foi encontrada sem vida em sua casa aos 28 anos. A polícia ainda investiga a causa da morte.

Muito mais do que uma estatística para casos envolvendo a morte de artistas do K-pop, Goo Hara foi vítima de um sistema machista e misógino que ainda favorece o lado dos agressores na Coreia do Sul. No começo de 2019, ela passou por um período conturbado na frente das câmeras: a cantora denunciou Choi Jong Bum, seu ex-namorado, por assédio e agressão, o que acabou tornando Hara alvo de críticas e comentários de ódio nas redes sociais. A repercussão do caso se tornou ainda maior quando a cantora foi socorrida e hospitalizada em maio após uma tentativa de suicídio. Alegando estado de depressão, ela se desculpou publicamente com seus fãs após o ocorrido. Choi, condenado em agosto a um período de três anos de liberdade condicional e um ano e meio de prisão, também foi acusado por agressão física, intimidação, chantagem e “pornografia de vingança”, uma vez que ameaçou vazar vídeos íntimos da cantora na internet.

“O assédio sexual e comentários maliciosos sobre celebridades femininas são crimes muito sérios. É difícil encontrar uma maneira de regular esses comentários maldosos porque o sistema de nomes reais da internet foi considerado inconstitucional. Todo o sistema precisa ser fortalecido por meio de medidas realistas, como a prevenção de palavras-chave que não exponham assédio abusivo ou sexual”, afirmou Song Sung Min, diretor da Entertainment Management Association ao portal de notícias coreano Kookje Shinmun.

Nesta segunda-feira (25), o Departamento de Polícia de Gangnam confirmou novas informações sobre o caso e afirmou que um bilhete escrito à mão foi encontrado pela governanta da artista. Os investigadores ainda revelaram que não existem indícios de crime e que também não divulgarão o conteúdo da mensagem que Goo Hara deixou.

Goo Hara em um evento na Coreia do Sul em 2017 Han Myung-Gu/WireImage/Getty Images

A cantora era grande amiga de Sulli, artista que também enfrentou o machismo durante toda a sua existência. Sempre questionada por manter uma postura empoderada, Sulli lutou contra a depressão, mas também foi encontrada sem vida em sua residência no mês de outubro. A tragédia abalou o mundo e incentivou uma campanha promovida por outros artistas sul-coreanos a fim de criar um projeto de lei que combatesse o cyberbullying.

A morte de Goo Hara inspirou uma ação divulgada pelo veículo coreano Woman News: uma petição online foi criada para que a justiça sul-coreana altere os critérios para definição de crime sexual, implicando em leis mais severas e eficazes. Até o momento, o site já colheu mais de 200 mil assinaturas.

Sulli foi outra artista do k-pop que faleceu em 2019 Reprodução/Instagram

Mortes envolvendo idols assombraram o K-pop em 2019 e continuam gerando inúmeras discussões sobre saúde mental e problemas com a indústria do entretenimento. Entretanto, é importante ressaltar que a Coreia do Sul lida com uma discriminação sexual profunda e constante em sua sociedade. Algumas artistas como Hwasa, CL e HyunA vêm trabalhando ao longo de suas carreiras para tornar o cenário igualitário entre homens e mulheres, assim como Instituições e ONGs também buscam educar a população sobre a importância do feminismo. Em um mundo mais justo, estrelas como Sulli e Goo Hara poderão existir sem os fantasmas da misoginia e do machismo.

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