Elenco e direção refletem sobre o legado de Ângela Diniz em nova série
Em entrevista à CH, Marjorie Estiano, Emílio Dantas e Andrucha Waddington refletem sobre revisitar o caso que marcou o debate sobre feminicídio no Brasil
uase 50 anos depois do assassinato que parou o país, a história de Ângela Diniz volta ao centro da conversa, agora pelas lentes da minissérie Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, que estreou no dia 13 de novembro na HBO Max. A produção dirigida por Andrucha Waddington e protagonizada por Marjorie Estiano e Emílio Dantas é inspirada no podcast Praia dos Ossos, da Rádio Novelo, e revisita o crime que escancarou o machismo do sistema judicial brasileiro nos anos 1970.
“O propósito da série é a necessidade de ainda se debater sobre o patriarcado e sobre a violência contra a mulher”, diz Marjorie Estiano em entrevista à CAPRICHO. “Trazer um recorte histórico de uma narrativa verídica de uma mulher que existiu e foi injustiçada — e que permanece injustiçada na memória de uma geração inteira — é uma oportunidade de refletir sobre o deslocamento que a gente fez, ou não fez, ao longo do tempo.”
A atriz conta que também conheceu a história a partir do podcast. Para ela, a produção é um espelho das contradições do país: “Nós somos o quinto país do mundo que mais mata mulheres. Quatro mulheres por dia são mortas por feminicídio. Ainda hoje, qualquer denúncia de estupro ou abuso descredibiliza a mulher, que é tachada de oportunista.”
“É sempre necessário reunir dezenas de mulheres abusadas pela mesma pessoa para que sejam ouvidas; uma mulher sozinha não consegue atravessar o patriarcado”, aponta.
Para Andrucha, revisitar o caso em 2025 é um espelho desconfortável da sociedade: “A gente está falando de um crime boçal e brutal que aconteceu em 1976, 49 anos atrás, e ele é totalmente atual. Muito pouca coisa andou. A questão da ‘legítima defesa da honra’ só caiu em 2023, e, mesmo assim, fora dos grandes centros, ela continua sendo usada como uma espécie de norma de dignidade do homem, o que é horroroso.”
Ele explica que o objetivo foi mostrar o contexto que transformou a vítima em ré. “A força midiática daquele julgamento transformou a Ângela de vítima em ré. Foi o primeiro julgamento televisionado ao vivo na história do Brasil — um julgamento que parou o país e dividiu famílias, com muita gente achando que o Doca estava certo.”
Entre cenas delicadas e julgamentos públicos, a série expõe a distância entre a imagem que a imprensa construiu da “Pantera de Minas” e a mulher real, complexa, inteligente e contraditória. “Na época, havia mulheres nas ruas gritando ‘Doca, casa comigo!’. E hoje isso ainda acontece. Quando vemos um homem que agride uma mulher e é algum tipo de celebridade, ele ganha milhões de seguidores. É muito impactante ver esse coro popular diante da violência”, diz Marjorie.
Raul Fernando do Amaral Street, mais conhecido como Doca e vivido por Emílio Dantas, é retratado sem glamour, como produto e agente do mesmo sistema machista que matou Ângela. O ator explica que buscou se afastar de qualquer tentativa de humanizar o assassino. “Ele foi um cara convicto de que cometeu um crime, pagou sua penitência e seguiu adiante. Pouquíssima coisa mudou na cabeça do Doca. Talvez nada. Essa construção de homem, dadas suas limitações, está presente em milhões de exemplos.”
Emílio diz que procurou manter distância da mentalidade do personagem. “Tem milhões de ‘Docas’ por aí. Essa limitação acabou me favorecendo”, reflete. E acrescenta: “Temos agressores de mulheres no Congresso. Temos assassinos, pessoas que atropelaram transeuntes enquanto dirigiam bêbados, e estão lá. Tudo isso continua acontecendo. Temos ‘Ângelas Diniz’ hoje que são menores de idade.”
Além de dramatizar o caso, a série também se debruça sobre a maternidade de Ângela. Marjorie destaca que a série mergulha em um ponto sensível: a maternidade como mais uma forma de controle social. “A Ângela não conseguia compreender por que era impedida de estar com os filhos, especialmente com a filha, de ter sua guarda. Ela compreendia seu papel de gênero de uma certa forma — tinha a essência livre de uma feminista, mas havia aspectos que ela mesma ainda não reconhecia.”
A atriz lembra que a equipe discutiu muito como retratar essa maternidade sem reforçar estereótipos. “Achamos importante não corroborar essa ideia de que uma mulher livre não pode ser uma boa mãe. Ao mesmo tempo, não queríamos construir um ‘álibi’ para ela, dizendo que era perfeita. Queríamos apenas espelhar uma mulher que vivia sua liberdade, sem precisar provar nada. Ser mãe apesar de ser livre, e ser livre apesar de ser mãe.”
O projeto começou a ser desenvolvido antes mesmo do sucesso do podcast Praia dos Ossos. Waddington conta que a equipe adquiriu os direitos da história ainda em 2019, quando ele convidou Estiano para o papel principal. A produção foi ganhando forma aos poucos e, em 2022, passou a contar com o envolvimento da HBO Max e da Warner Bros. O podcast, lançado dois anos antes, serviu como uma base importante para a construção do roteiro.
Filmada entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, a produção equilibra o brilho dos anos 1970 com o peso da tragédia. A direção de arte aposta em cores quentes e figurinos inspirados em revistas da época, contrastando o glamour da elite com a solidão de Ângela.
Com roteiro de Helena Soares, Pedro Perazzo e Thaís Tavares, Ângela Diniz: Assassinada e Condenada propõe um novo olhar para uma história que o país ainda tenta entender. Entre o julgamento público, a violência institucional e o espelho social que o caso representa, a série convida o público a encarar o passado e perceber o quanto ele ainda se repete.
Ângela Diniz: Assassinada e Condenada já está disponível na HBO Max.
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