Talibã decreta que mulheres jornalistas devem usar burca na TV

Veículos de comunicação foram ameaçados por membros do regime, caso medida não fosse cumprida.

Por Bruna Nunes Atualizado em 30 out 2024, 15h57 - Publicado em 23 Maio 2022, 17h12

 

Uma escola para meninas que recebeu muitas ameaças do Talibã, retratada em 31 de março de 2009 em Mardan, província da fronteira noroeste, Paquistão.
Veronique de Viguerie/Getty Images

Mais um decreto foi imposto para as mulheres afegãs. Desde o último domingo (22), as apresentadoras de TV só poderão entrar ao ar se estiverem usando burca, deixando apenas os olhos à mostra.

Os times dos canais Tolo News, Ariana Television, Shamshad TV e 1TV resistiram à nova ordem em um primeiro momento, mas o Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício ameaçou as emissoras. Disseram [os membros do talibã] que qualquer apresentadora que aparecesse na tela sem cobrir o rosto deveria ser deslocada para outra função“, revelou Sonia Niazi, a âncora do Tolo News à agência de notícias AFP.  

Segundo Khpolwak Sapai, que é diretor da Tolo, eles não tiveram outra opção: “Não o fazemos por escolha própria. Fomos obrigados“, disse. Em solidariedade às funcionárias, os homens que estavam trabalhando no local também cobriram seus rostos.  

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Assim como Sonia, que declarou que irá ser porta-voz de todas as mulheres do Afeganistão, a apresentadora da 1TV, Lima Spesaly, informou que continuará resistindo como pode. “Vamos continuar com nossa luta até o último suspiro”, disparou antes do seu programa começar. 

Algumas jornalistas relataram à BBC o quanto a mudança está sendo difícil para elas. Farida Sial, por exemplo, pontou as dificuldades técnicas de trabalhar com o rosto todo coberto, pois “é muito difícil para uma apresentadora cobrir o rosto por duas ou três horas consecutivas e falar”.  Já outra profissional, que preferiu não ser identificada, desabafou: “Hoje é mais um dia trágico para as mulheres do meu país”.

As meninas e mulheres do Afeganistão já foram impedidas de viajarem sozinhas, separadas dos meninos nas escolas e agora lidam com novas restrições de vestimenta, que as impedem de aparecer em público sem que estejam cobertas por inteiro, até mesmo para trabalhar.

Aparentemente, o Talibã deixa cada vez mais de lado sua proposta de um governo mais flexível, e se aproxima ainda mais do regime de 1996 e 2001.

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