Fidelidade é…
Deixamos a frase no ar para que três casais a completassem. Na teoria, é fácil dizer. Mas e na prática, como funciona essa história de fidelidade?
Imagine a situação: você namora sério um cara legal, que a faz feliz a ponto de você nunca ter sentido vontade de beijar mais ninguém. Um dia, você fica presa no elevador com o Brad Pitt e ele dá em cima. Você seria fiel ao seu namorado? Para alguns, mais difícil do que resistir à tentação é responder à questão. Para outros, é absurdamente fácil. Porque cada pessoa tem uma noção de fidelidade. “Existe um conceito geral, que tem a ver com exclusividade, com não trair. E existem os limites de cada um”, diz o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor do livro Ciúme, o Medo da Perda. “Mas a fidelidade é a quem? Ao outro ou a si mesmo? A fidelidade aos próprios desejos, sentimentos e vontades tem sido mais forte, é mais comum. Poucas pessoas renunciam ao seu desejo por causa do outro.” Quando se trata de um casal, a fidelidade é quase uma equação matemática, um acordo entre os limites de cada um do que é aceitável no relacionamento. “A traição acontece quando esse acordo é quebrado”, diz Eduardo. Para ele, homens e mulheres encaram a fidelidade de maneira diferente: “A sociedade é machista. Fidelidade para a mulher é só ter olhos para o namorado e para o homem é que ela só tenha olhos para ele.”
… um acordo de vontades
“Para mim não existe fidelidade”, diz Rafael Lucca, 20 anos. Ele e Juliana Moya, 18, namoram há um ano e meio. “Temos um acordo de vontades e valores. Se os valores de fidelidade são diferentes, acho difícil o namoro dar certo”, diz Rafael. No caso dos dois, é igual. “É legal ser paquerado, é uma massagem no ego. Mas nem penso em ficar com outras. Tudo que eu busco encontro na Juliana”, diz Rafael. “E se um dia a gente não encontrar mais o que busca no outro, não fará sentido continuarmos juntos”, completa a namorada. O casal é bem relax: Vanessa viaja sozinha e Rafael vai para a balada só com os amigos na boa. É claro que no caso das viagens dela como a de formatura para Porto Seguro (BA) no ano passado bate uma insegurança. “Eu tinha dito para ele que poderia acontecer alguma coisa. Lá é um mundo meio à parte”, conta Vanessa. “Eu também tive medo de ele me trair por vingança antecipada. Mas não adiantava ficar na nóia…” A combinação dos dois era de contar um para o outro se tivesse rolado alguma coisa com outra pessoa. “Acho que ficar com outro em um momento de fraqueza até dá para perdoar. Ficaria triste, decepcionado, mas não sei se terminaria por causa disso”, diz Rafael. No fim, foi tudo tranqüilo. Vanessa voltou ilesa: “Os caras do axé não faziam o meu estilo. E passei a maior parte do tempo com duas amigas que também namoravam e estavam mais sossegadas.”
… relatório e grude
Vanessa Lima e Rafael Garcia têm 16 anos e namoram há seis meses. Os dois fazem tudo juntos e são bem ciumentos. “No nosso acordo, tem que dar satisfação, compartilhar”, diz Vanessa. “A gente gosta de saber tudo o que se passa na vida do outro.” Para eles, a confiança e a fidelidade estão baseados no grude. Eles podem fazer o que quiserem desde que contem tudo depois. “Se não conta, é porque tem alguma coisa errada”, fala ela. Se os dois são extremamente fiéis, de onde vem o ciúme? “Do medo de perder”, ela completa. “Tem muita fofoca. Evito falar que acho uma menina bonita na frente de algumas pessoas porque a informação pode chegar de outra maneira nela”, diz Rafael. O casal fez um pacto de não ir à viagem de formatura no ano que vem (os dois ainda estão no 2º ano do ensino médio). “Prefiro ficar aqui com o Rafael”, fala Vanessa. “Como sei que não vou fazer nada de errado, vou acabar me sentindo excluída do resto da turma. Todo mundo vai para zoar, ficar com todo mundo.” Ele tem uma opinião parecida: “Não vou, mesmo sabendo que Vanessa não vai fazer nada de errado, que não iria atrás de ninguém. Mas ela pode ser xavecada. Como eu não gostaria que ela fosse, também vou deixar de ir.”
A fidelidade e você
804 leitoras responderam à enquete sobre fidelidade no site http://www.capricho.com.br
52% contariam para o namorado se tivessem ficado com outra pessoa
48% já traíram alguma vez
26,5% não consideram traição ficar com um desconhecido no Carnaval mesmo se tivessem um namorado
24,5% acham que tudo bem ficar com outro cara se o namorado mora longe
19% não acham que estariam traindo o namorado em uma ficada sem sentimento
8% são a favor de ficar com alguém durante uma viagem de intercâmbio enquanto o namorado estiver no Brasil
4,5% acham que uma transa sem compromisso não atrapalharia o namoro
2,5% acham normal ficar com outras pessoas em uma viagem de formatura sem o namorado
… difícil na nossa idade
Flávia Nobre, 16 anos, e Guilherme Favaro, 15, namoraram durante oito meses. Há dois meses terminaram o namoro, mas continuam amigos. Eles não são adeptos do “ninguém é de ninguém”, mas não achariam o fim do mundo se rolasse uma ficada ou outra durante o namoro. “A liberdade era dada, quer dizer, falada”, diz Guilherme. “Principalmente porque achava que ela nunca ficaria com outro.” Flávia tinha a mesma postura: “A gente dizia que um lance de uma noite não acabaria com o namoro, mas não sei se aceitaria se ele ficasse com outra”. Quando aconteceu, os dois não souberam lidar com isso. Flávia ficou com um cara em uma balada e contou para ele um tempo depois. “O pior não foi ela ter beijado outro cara, eu sabia que ela não gostava menos de mim por isso. Mas ela não me contou. Soube por outras pessoas”, diz Guilherme. “Aprendi errando. Deveria ter contado”, diz Flávia. Os dois afirmam que o namoro acabou por desgaste. Não acham que a ficada foi a causa principal apenas teve um peso. “Ficou difícil confiar depois.” Guilherme diz que os dois não tinham individualidade no namoro e terminaram também para poder curtir. “Na nossa idade, esta palavra, fidelidade, não deveria ter esse peso. Os namoros não precisavam ser tão sérios”, afirma ele.
“Beijo não é traição”
Gustavo Braga, 17 anos, já teve um namoro “meio aberto”. Ele morava em Itajaí (SC) e a namorada em Florianópolis. “A gente dizia que se rolasse de ficar com alguém não teria problema, porque a gente morava em cidades diferentes”, conta Gustavo. “Mas tinha que contar para manter a confiança e a sinceridade. Eu preferia saber por ela a saber por outras pessoas. Ainda bem que não aconteceu.” Gustavo acha que traição tem mais a ver com sentimento. “Não tem tanto problema se uma namorada beijar outro garoto por beijar desde que não seja um amigo meu. Se rola numa balada e ela me conta, eu sei que ela ainda gosta de mim… O problema é começar a gostar de outro garoto e me iludir.” Gustavo não faz o tipo ciumento, acha que a sinceridade é importante. “É legal fazer acordos. É praticamente impossível, por exemplo, ir para Porto Seguro e não ficar com outra. Ou no Carnaval. Mas não dá para acabar o namoro só por isso. Fidelidade é jogar limpo. Eu aceitaria isso de uma menina. Elas é que não aceitam. Por isso é difícil namorar hoje em dia.”
Hormônio da monogamia
Os estudos mais recentes sobre a monogamia apontam que a mulher pode ser mais fiel que o homem porque possui mais ocitocina no organismo. Para quem não se lembra das aulas de biologia, esse é o hormônio responsável pela contração do útero na hora do parto. A conclusão veio de uma experiência em laboratório em que o hormônio foi injetado em um grupo de ratos, que manteve a família depois do nascimento dos filhotes, um comportamento atípico da espécie. O natural é a dispersão da família depois do parto.