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Coronavírus: voluntário que tomou vacina de Oxford relata experiência

O britânico Richard Fisher conta como foi tomar uma das vacinas mais promissoras no combate ao coronavírus e como está se sentindo agora

Por Gabriela Junqueira Atualizado em 6 ago 2020, 20h34 - Publicado em 6 ago 2020, 11h28

Em julho, foi iniciada a terceira fase de testes da vacina para coronavírus produzida pela Universidade de Oxford, com 10.000 voluntários, entre eles Richard Fisher. Em relato para a BBC, o britânico contou detalhes de como foi participar do processo, em Londres.

De acordo com Richard, a ideia de se inscrever como voluntário surgiu após ver o tuíte de um filósofo da universidade inglesa. “Enquanto minha esposa dormia ao meu lado, decidi preencher o formulário de voluntariado no site da instituição e esqueci do assunto. Algumas semanas depois, aqui estou eu, em uma sala de neurologia agora destinada ao teste de vacina”, conta.

Karl Tapales/Getty Images

O pesquisador Matthew Snape, um dos cientistas por trás da droga, explicou para Fisher e os outros voluntários que, na terceira fase, eles seriam divididos em dois grupos: uma parte receberia a vacina de Oxford enquanto a outra seria inoculada com a vacina MenACWY, usada para sepse e meningite.

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O segundo grupo, conhecido como “Grupo de Controle”, recebeu a MenACWY para que todos os voluntários sentissem os efeitos colaterais de uma vacina, e assim fosse possível avaliar com clareza os resultados. Os voluntários foram separados de maneira aleatória e nem os próprios cientistas sabem qual vacina eles receberam até o fim do estudo. 

Para desenvolver a droga contra o coronavírus, a Universidade de Oxford usou uma técnica que já vinha sendo estudada para o Ebola e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers). A vacina usa uma versão de um vírus da gripe que atinge os chimpanzés (modificada geneticamente para não se reproduzir), alterado para carregar os genes que criam glicoproteínas da COVID-19.

 

Fisher explicou que, antes de tomar a vacina, passou por um processo em que recebeu quase uma aula sobre ela e foi informado de todos os efeitos colaterais que poderia sentir, além de se comprometer com suas obrigações enquanto voluntário. “Por exemplo, permitir que fotos do meu braço inoculado sejam publicadas. Também não posso doar sangue e as mulheres devem se comprometer a usar métodos contraceptivos durante o estudo“, conta.

Ao falar sobre os riscos, o britânico diz que sabia que as chances de ter as reações eram pequenas, mas que mesmo assim foi difícil ler a lista com os efeitos colaterais. “Sei que milhares de pessoas já foram vacinadas nas fases anteriores do ensaio e não sofreram consequências graves, como confirmado pelo estudo publicado na revista científica The Lancet em 20 de julho, mas…”, titubeia.

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No dia 3 de julho, quando Fisher aguardava a médica Eva Galiza no hospital St. Georges, para saber se realmente tomaria a vacina, os bares e barbearias da Inglaterra voltavam a abrir. “Penso em amigos e familiares em outras partes do mundo, cada um experimentando diferentes estágios dessa pandemia”, lamenta.

Sobre o cenário mundial, o homem cita os números de infecções nos Estados Unidos e Brasil. “Os surtos no Brasil são a razão pela qual os pesquisadores de Oxford expandiram seus ensaios para incluir voluntários no Rio de Janeiro, São Paulo e outro local no norte do país”, comenta.

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Ele relembrou na entrevista como foi quando finalmente recebeu a vacina. A Dra. Galiza entrou no quarto em que estava com um frasco na mão. Ela estava de máscara, mas o inglês conseguiu notar pela expressão dos olhos que estava sorrindo. “Agora, a questão é: há 50% de chance de eu ter recebido a vacina Oxford e 50% de ter sido a vacina controle, e não saberei qual delas foi até o final do estudo”, explica.

Depois do sétimo dia, ele precisou coletar amostras com um cotonete do material da suas amígdalas e nariz, para que fossem analisadas. No Reino Unido, caixas de correio prioritárias foram criadas para o envio dessas amostras. Com elas, vai um formulário que os voluntários preenchem sobre seus hábitos, do tipo:Eu usei transporte público?”, “Com quantas pessoas que não moram em minha casa eu passei por mais de 5 horas?”, etc.

 

Os participantes precisaram fazer isso semanalmente durante quatro meses, além de cederem amostras de sangue até o fim de 2021. “Essa etapa longa e necessária é aquela que muitas pessoas, incluindo vários políticos, não entendem. Você não pode investir grandes somas de dinheiro para acelerar esse processo“, explica.

Fisher diz que é preciso levar em conta que “a vacina aprovada pode não ser a panaceia que muitos esperam, capaz de acabar com a doença”, ou seja, “pode não matar completamente o vírus, mas apenas mitigar seus efeitos.” Sobre seu comportamento, ele deixa claro: “Até que tenhamos certeza de que existe uma vacina eficaz, continuarei a respeitar as regras de distanciamento.” 

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