Coronavac: testes são suspensos, mas por “óbito não relacionado à vacina”
Em coletiva, presidente do Instituto Butantan questionou ética da Anvisa e falou que ela já sabia da morte desde o último dia 6: "Descrédito gratuito"
Na noite da última segunda-feira, 9, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mandou paralisar os estudos da vacina chinesa Coronavac no Brasil após identificar um “evento adverso grave” em um dos voluntários. Até segunda ordem, quando a análise sobre a morte for concluída, nenhuma pessoa poderá receber a droga desenvolvida pela Sinovac, que já se encontra na fase final de testes no país.
Por questões de confidencialidade, a Anvisa não pôde liberar mais informações sobre a morte em questão. Sabe-se que o homem tinha 33 anos e faleceu em 29 de outubro. Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, que administra a vacina, contudo, disse que temos aqui uma situação de “um óbito não relacionado à vacina”: “São mais de 10 mil voluntários, pode acontecer óbito. O sujeito pode ter um acidente de trânsito e morrer”, disse em entrevista ao Jornal da Cultura, da TV Cultura.
Dimas lamentou o fato de ter descoberto sobre a paralisação dos testes da Coronavac pela Imprensa e não diretamente da Anvisa, como é de praxe. A situação, somada à atitude que Jair Bolsonaro tomou na sequência, levantou suspeitas sobre um possível envolvimento político no episódio. Dias antes da morte do voluntário, o presidente da República fez um posicionamento polêmico sobre a droga: “Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso”, disse. Após saber sobre a paralisação, não demorou muito para o presidente manifestar sua satisfação com o caso nas redes sociais. “Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu no Facebook.
A notícia que coloca em cheque a segurança da droga chinesa saiu no mesmo dia em que a vacina da Pfizer, em parceria com o laboratório alemão BioNTech, surpreendeu os especialistas apresentando mais de 90% de eficácia na fase final de testes. Esta droga, contudo, não está em estudo no Brasil nem há ainda garantia de que será comprada pelo país.
Anteriormente, as testagens finais da vacina inglesa de Oxford também foram interrompidas após “evento adverso grave” em médico voluntário. Foi descoberto na sequência que o profissional da saúde havia sido imunizado com o placebo, não com a droga. Ele faleceu vítima de complicações da COVID-19. A Coronavac, por ora suspensa, utiliza o próprio SARS-CoV-2 morto para provocar a resposta imunológica do organismo.
Na manhã desta terça-feira, 10, João Dória realizou uma coletiva de imprensa diretamente do Instituto Butantan para falar sobre a paralisação decretada pela Anvisa. Nela, foi reforçado que o evento adverso grave do voluntário não teve relação com a vacina e que essa informação está disponível para conhecimento da Anvisa desde o último dia 6. Foi dito também que a Anvisa não apurou as causas da morte da maneira correta, tendo decretado a paralisação dos testas na última segunda-feira, 9, às 20h40, informando que uma reunião sobre o episódio adverso só seria realizada no dia seguinte [no caso, hoje]. “Fiquei sabendo sobre isso em rede nacional(…) Não recebi nenhum telefonema da Anvisa(…) Suspenderam um estudo clínico causando medo, fomentando um ambiente que já não é muito propício ao fato dessa vacina ser feita em associação com a China(…) Descrédito gratuito a troco de quê?”, questionou Dimas Covas, que lamentou a falta de ética da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e garantiu a segurança da droga chinesa.