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Coronavac: testes são suspensos, mas por “óbito não relacionado à vacina”

Em coletiva, presidente do Instituto Butantan questionou ética da Anvisa e falou que ela já sabia da morte desde o último dia 6: "Descrédito gratuito"

Por Isabella Otto 10 nov 2020, 11h33
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CAPRICHO/Sestini/Divulgação

Na noite da última segunda-feira, 9, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mandou paralisar os estudos da vacina chinesa Coronavac no Brasil após identificar um “evento adverso grave” em um dos voluntários. Até segunda ordem, quando a análise sobre a morte for concluída, nenhuma pessoa poderá receber a droga desenvolvida pela Sinovac, que já se encontra na fase final de testes no país.

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Javier Zayas Photography/Getty Images

Por questões de confidencialidade, a Anvisa não pôde liberar mais informações sobre a morte em questão. Sabe-se que o homem tinha 33 anos e faleceu em 29 de outubro. Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, que administra a vacina, contudo, disse que temos aqui uma situação de “um óbito não relacionado à vacina”: “São mais de 10 mil voluntários, pode acontecer óbito. O sujeito pode ter um acidente de trânsito e morrer”, disse em entrevista ao Jornal da Cultura, da TV Cultura.

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Dimas lamentou o fato de ter descoberto sobre a paralisação dos testes da Coronavac pela Imprensa e não diretamente da Anvisa, como é de praxe. A situação, somada à atitude que Jair Bolsonaro tomou na sequência, levantou suspeitas sobre um possível envolvimento político no episódio. Dias antes da morte do voluntário, o presidente da República fez um posicionamento polêmico sobre a droga: “Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso”, disse. Após saber sobre a paralisação, não demorou muito para o presidente manifestar sua satisfação com o caso nas redes sociais. “Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu no Facebook.

Print do comentário que Bolsonaro fez no Facebook, dizendo: “Mais uma que Jair ganha” GettyImages/Facebook/CAPRICHO

A notícia que coloca em cheque a segurança da droga chinesa saiu no mesmo dia em que a vacina da Pfizer, em parceria com o laboratório alemão BioNTech, surpreendeu os especialistas apresentando mais de 90% de eficácia na fase final de testes. Esta droga, contudo, não está em estudo no Brasil nem há ainda garantia de que será comprada pelo país.

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Anteriormente, as testagens finais da vacina inglesa de Oxford também foram interrompidas após “evento adverso grave” em médico voluntário. Foi descoberto na sequência que o profissional da saúde havia sido imunizado com o placebo, não com a droga. Ele faleceu vítima de complicações da COVID-19. A Coronavac, por ora suspensa, utiliza o próprio SARS-CoV-2 morto para provocar a resposta imunológica do organismo.

Na manhã desta terça-feira, 10, João Dória realizou uma coletiva de imprensa diretamente do Instituto Butantan para falar sobre a paralisação decretada pela Anvisa. Nela, foi reforçado que o evento adverso grave do voluntário não teve relação com a vacina e que essa informação está disponível para conhecimento da Anvisa desde o último dia 6. Foi dito também que a Anvisa não apurou as causas da morte da maneira correta, tendo decretado a paralisação dos testas na última segunda-feira, 9, às 20h40, informando que uma reunião sobre o episódio adverso só seria realizada no dia seguinte [no caso, hoje]. “Fiquei sabendo sobre isso em rede nacional(…) Não recebi nenhum telefonema da Anvisa(…) Suspenderam um estudo clínico causando medo, fomentando um ambiente que já não é muito propício ao fato dessa vacina ser feita em associação com a China(…) Descrédito gratuito a troco de quê?”, questionou Dimas Covas, que lamentou a falta de ética da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e garantiu a segurança da droga chinesa. 

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